INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Intercâmbio entre Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e do campus de Bom Jesus da UFPI fortalecem articulações entre Educação, Cultura e Direito.


Nos dias 02 e 03 de agosto de 2018 ocorreu no campus de Bom Jesus, da Universidade Federal do Piauí, o 1º Seminário e 1º Ciclo de Oficinas Culturais da Licenciatura em Educação do Campo (Ledoc)/CPCE: arte, direito e educação na construção da resistência camponesa. O evento teve como objetivo promover reflexões, intercâmbios e práticas acerca da arte, do direito e da educação na construção da resistência camponesa, rumo à emancipação social dos sujeitos do campo.
A Educação do Campo da UnB esteve representada pela coordenadora do curso de Licenciatura em Educação do Campo, professora Eliene Novaes Rocha, também integrante do Fórum Nacional da Educação do Campo (Fonec), pela professora egressa da Ledoc Adriana Gomes, mestranda da Faculdade de Educação da UnB e pelo professor Rafael Litvin Villas Bôas, da Ledoc e coordenador de extensão da Faculdade UnB Planaltina.
Na manhã do primeiro dia foram apresentados os resultados da pesquisa coordenada pelos professores Ozaías Batista e Socorro Pereira da Silva, sobre o "Perfil socioeducacional dos discentes da Educação do Campo". A riqueza e minúcia dos dados coletados e sistematizados permitiu um diagnóstico do público discente da Ledoc/Bom Jesus, abordando questões como renda média das famílias, principais dificuldades para a permanência e conclusão do curso, relação com os movimentos sociais, etc. O questionamento sobre os dados oportunizou o debate sobre a metodologia da pesquisa, a partir do indagações sobre os critérios e focos do levantamento, aplicada à realidade dos próprios estudantes. 
A mesa sobre “Arte, direito, educação e política na construção da resistência camponesa: do planalto central à região do PDA Matopiba”, realizada a tarde, contou com a presença dos dois professores da UnB e do juiz Eliomar Rios da Vara Agrária de Bom Jesus-PI. Caso raro no meio judiciário brasileiro atual, o juiz demonstrou conhecer in locoas comunidades rurais do sul do Piauí, muitas vezes envolvidas em conflitos fundiários para resistir aos interesses do grande capital, que investe na estrangeirização de terras e produção em larga escala para exportação. A fala do juiz  deixou claro que os empreendimentos do agronegócio produzem efeitos danosos ao meio ambiente e aterradores à população local, a partir de expedientes como grilagem e grilagem digital da terra, associados à exploração do trabalho em fazendas pecuaristas e sojeiras, à privatização da água do subsolo para irrigação e ao uso livre de agrotóxicos e demais componentes do pacote tecnológico da agricultura capitalista. 
A mesa destacou-se ainda por abordar o entrelaçamento entre soberania territorial, soberania alimentar e soberania cultural, articuladas à soberania nacional, enquanto demanda de construção de um projeto de nação.
Tais articulações foram aprofundadas no segundo dia de evento, por meio da exposição do Sr. Carlos Humberto Campos (Cáritas Brasileira), cuja exposição foi antecedida por dois juris simulados, encenados por estudantes da Ledoc: um que abordou o tema das desigualdades de gênero no campo e outro que abordou a contradição entre os projetos de desenvolvimento do campo  (capital x trabalho) evidentes, entre as chapadas e baixões, na região do Vale do Gurguéia (sul do PI). O debate contou com forte participação de estudantes e professores da UFPI e de representantes dos movimentos sociais e sindicais presentes (CPT, MST, Fetag, Cáritas, Movimento Quilombola, etc).
O esforço de articular os temas do Direito, da Cultura e da Educação esteve presente também nas apresentações culturais do Coletivo Cenas Camponesas, estreando a peça "Luta Nossa, camponesa" (projeto de extensão da Ledoc/UFPI), do grupo de teatro Improvisa Cantídio, da escola municipal de Cantídio/Comunidade Rural de Corrente dos Matões (Bom Jesus/PI), e do grupo de Maculelê da Comunidade Quilombola Brejão dos Aipins (Redenção/PI). 
Os dois grupos de teatro que se apresentaram, um de adolescentes de uma escola e outro de estudantes da Ledoc, abordaram dinâmicas do conflito fundiário no sul o PI: o tema da grilagem digital de terras e as consequências para a população camponesa, no caso do primeiro grupo, e as ameaças de jagunços que uma família de agricultores sofre para vender suas terras para um fazendeiro, no caso do segundo grupo. Nos dois casos o teatro tratou da questão agrária brasileira e dos conflitos fundiários a ela subjacentes, buscando dar forma estética aos problemas políticos e econômicos vivenciados pelas comunidades que vivem na fronteira agrícola de expansão do agronegócio, conhecida como Projeto de Desenvolvimento Agrária (PDA) Matopiba, por estar em área de fronteirados estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Por diferentes e criativos métodos, o seminário tratou de socializar conhecimentos em diferentes áreas, de maneira articulada, e envolvendo diferentes setores da sociedade e do Estado. Cabe destacar os concursos realizados na noite cultural, de forró, de melhor cachaça artesanal da região, de melhor doce caseiro e de melhor farinha de mandioca. Para cada atividade os concorrentes tinham que explicar a origem e o modo de produção dos produtos e os jurados tinham que elucidar ao público a razão de suas escolhas, tendo em vista os critérios previamente adotados. Além de divertida, a proposta se mostrou eficaz instrumento de propaganda da produção culinária da agricultura camponesa, dando voz aos produtores e produtoras locais.
            Por fim, cabe salientar que o encontro proporcionou o intercâmbio entre as experiências de extensão dos campus de Planaltina da UnB e de Bom Jesus da UFPI e desenhou possibilidades de fortalecimento do intercâmbio entre as ações das duas licenciaturas e dos dois campi, os quais possuem características semelhantes. O próximo encontro da agenda é a vinda do grupo Cenas Camponesas para se apresentar na III Mostra Terra em Cena e na Tela, organizada pelo Coletivo e programa de extensão Terra em Cena, a ser realizada nos dias 24 e 25 de setembro de 2018, durante a Semana Universitária da UnB.

Eliene Novaes, Rafael Villas Bôas (professores da Ledoc/UnB), Kelci Pereira (professora da Ledoc/UFPI-Bom Jesus) e Adriana Gomes (Mestranda da FE/UnB)

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