INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Inscrições abertas até 03/05/19 para IV Mostra Terra em Cena e na Tela em Bom Jesus - PI


Encontram-se abertas as inscrições para a IV Mostra Terra em Cena e na Tela, que acontecerá em Bom Jesus/PI (UFPI, Teatro Alard e Praça do Fórum), do dia 9 ao dia 11 de maio de 2019. O evento é gratuito e será encerrado com uma bela noite cultural, ao som da Banda Caju Pinga Fogo.  
Participem!
Mais informações abaixo!




Inscrições pelo site https://www.even3.com.br/mostraterraemcenaenatela/ - até 03/05/19
A participação nas oficinas está condicionada à oferta de vagas e ao interesse declarado pelos participantes no ato da inscrição! Evento Gratuito!

att. Comissão organizadora

Romeu & Julieta e a tragédia do patriarcado: GET CEF 316 de Santa Maria inicia jornada da segunda montagem encenando Shakespeare



No dia 11 de abril de 2019 o Grupo Estudantil de Teatro do Centro de Ensino Fundamental 316 (GET CEF 316), de Santa Maria (DF), esteve, pela segunda vez, se apresentando no auditório Augusto Boal do campus de Planaltina da UnB, a convite do programa de extensão Terra em Cena. O coletivo apresentou uma adaptação da peça Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês William Shakespeare.
A versão do GET CEF 316 faz opção por intercalar ao texto do dramaturgo muitas cantigas populares, coreografadas pelo professor e diretor do grupo Adriano Duarte, que aporta ao grupo sua experiência como bailarino profissional. O procedimento da interpretação do texto por meio de coros é, por um lado, a opção política por dar ênfase à voz coletiva em detrimento à performance individual dos integrantes do elenco, e por outro lado, é uma forma de lidar com as dificuldades constantes do trabalho de montagem com coletivos amadores: ao coletivizar a voz por meio dos coros, todo o elenco trabalha com o texto teatral, o que torna o grupo menos vulnerável às ausências de um ou outro ator ou atriz. O coletivo garante a dinâmica constante de trabalho, contornando as eventuais inconstâncias do elenco.
Há três características presentes nas duas montagens do grupo: o trabalho de adaptação com obras literárias conhecidas – Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol e Romeu e Julieta, de Shakespeare – e o trabalho de encenação por meio dos recursos da dança e música, com ênfase nas coreografias, e o trabalho com os coros como forma de interpretar coletivamente o texto teatral.
O GET CEF 316 se destaca por ser um grupo que se formou a partir de trabalho desenvolvido em sala de aula, e que posteriormente passou a ensaiar aos sábados, e a participar de eventos teatrais, em São Paulo, em Uberlândia, no II Colóquio do Mestrado Profissional em Artes da UnB e na III Mostra Terra em Cena e na Tela, no campus de Planaltina da UnB, em 2018. Adriano Duarte descreve e analisa a experiência da primeira montagem na dissertação que defendeu em 2018, no Mestrado Profissional em Artes da UnB.
Atualmente, o elenco conta com estudantes da escola e também com integrantes egressos do CEF 316, que mantém o vínculo com a escola por meio a participação no coletivo de teatro. Para a permanência do grupo o apoio da equipe docente e direção da escola, bem como da regional de ensino, é muito importante, muitas vezes garantindo as condições logísticas de transporte para que o grupo consiga se deslocar e circular atendendo aos convites que lhes são feitos.
No debate da tarde do dia 11 de abril, estabelecido com o público formado por estudantes, professores, funcionárias da limpeza e moradores da comunidade de Planaltina, foi bastante enfatizada a questão do sistema patriarcal, pano de fundo da tragédia que estrutura a peça Romeu e Julieta, com as alusões de nomes de adolescentes mortas por crimes de feminicídio nos tempos contemporâneos. Além dos crimes trágicos conhecidos e veiculados na mídia, foram citados crimes próximos, como o da prima de quinze anos de uma das integrantes do grupo, assassinada recentemente. 
Portanto, seja pela forma como a adaptação dialoga com o tema da peça, seja pelos procedimentos estéticos que o grupo mobiliza no trabalho de encenação, ou ainda pela forma como  o grupo busca a interlocução com comunidades, escolas públicas e com outros coletivos teatrais, como o Terra em Cena e a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF, o GET CEF 316, grupo sediado em uma escola pública de periferia,  vem se tornando um dos responsáveis pelo fortalecimento do teatro político no Distrito Federal e estimulando o surgimento de novos grupos envolvendo estudantes, professores e técnicos de escolas e universidades.

Rafael Litvin Villas Bôas 
Coordenador do Coletivo Terra em Cena
Professor do campus de Planaltina da UnB e do Mestrado Profissional em Artes 


Fotos:





terça-feira, 2 de abril de 2019

“Posseiros e Fazendeiros” inspira e mobiliza o coletivo Cenas Camponesas


O Cenas Camponesas é um coletivo de teatro político ligado à licenciatura em educação do campo da UFPI/Campus Bom Jesus, fundado e dinamizado por docentes dos cursos e discentes camponeses. Nosso propósito é dispor da linguagem do teatro para estudar o real, nosso maior alimento, e, nele, o humano, conhecendo-nos como trabalhadores, fazedores do mundo e da história. Nesse sentido, nos interessa particularmente compreender a questão agrária brasileira e os atravessamentos à reprodução ampliada da vida do campesinato. Articulada a esta intencionalidade temática, nos organizamos para investigar e nos apropriar dos recursos estéticos mais potentes para expressão e problematização, do ponto de vista da classe trabalhadora, dos processos que marcam a re(existência) camponesa frente ao avanço do capitalismo no campo.
E nos interessa ainda, construir um modo de produção cultural e artístico, que reflita e realce nossa utopia militante: a de contribuir a mudança rumo a uma sociedade de trabalhadores livremente associados.
A escolha que fizemos por remontar a peça Posseiros e Fazendeiros[1] tem a ver com essa identidade política do Cenas e com a compatibilidade entre o nível de complexidade do texto e de amadurecimento do elenco. Nos identificamos com a peça na medida em que ela traz o antagonismo e vínculos entre fazendeiros e posseiros, destacando entre os fazendeiros o capital internacional (Grande Fazendeiro) e explorando ainda as contradições internas a cada fração de classe. Desse modo, logo de cara, notamos que estávamos diante de uma lente dialética para o estudo da região atingida pelo MATOPIBA, onde vivemos. Do ponto de vista formal, a dramaturgia também nos interessou porque apontou caminhos para a experimentação da abordagem épica, especialmente no que diz respeito a cotejar, na encenação, dados da realidade presente e passada, extraídos de jornais, de pesquisas científicas, de relatos do próprio elenco camponês que vive em conflito com o agronegócio.
Quando passamos à objetivação da montagem, notamos ainda que Fazendeiros e Posseiros nos traz uma tese - a de que o conflito entre trabalhadores e capitalistas, que disputam a terra e tudo que vem para fins distintos, é desigual, dada a natureza das armas de cada um. Isso ascendeu nossa curiosidade estética e política, ativou a imaginação do grupo pela questão de fundo que nos colocou: com que astúcia podem os camponeses potencializar suas armas e defenderem-se da sanha do capital, dos processos de expropriação e massacre, intensificados e complexificados no contexto da nova modernização conservadora do país, do avanço do fascismo, do ataque às liberdade políticas e aos direitos sociais, e a reconfiguração das forças produtivas internacionais, desdobrado no modelo de capitalismo dependente brasileiro? Com que astúcia podemos nós, um coletivo amador e popular de teatro, representar a astúcia dos camponeses frente ao vigor e horror de seu inimigo?
Tão fertilizados ficamos, pelo poder do texto e da própria conjuntura (nacional e do Matopiba), nos pusemos a desenvolver dois processos simultâneos e articulados como procedimento de montagem: de um lado realizamos seminários livres de estudo. Voltando ao Brecht (Horácios e Curiácios), percebendo que deveríamos explorar mais as nuances dos personagens em cenas, as incongruências internas dos seguimentos sociais em luta, perscrutar a real natureza e alcance de seus interesses e ações desses sujeitos, nos perguntar sobre qual a raiz e o impacto do negócio de terras, águas, minérios e gentes no sul do PI, olhar para as armas da disputa de fazendeiros e posseiros alertas, pois “em uma coisa existem muitas coisas”. Motivados por fazer da peça um registro da história camponesa no PI, pesquisamos os documentos históricos que registram, dando notícias e detalhes, de como chegamos até o estado de coisas atual: cartas de sesmarias, documentos que da Comissão Nacional da Verdade que ajudam a explicar a relação entre escravismo e cativeiro da terra, que revelam a relação entre ditadura e massacre das organizações camponesas par i passu com seu avanço... Às pesquisas das fontes históricas agregamos a pesquisa musical e o estudo teórico, por exemplo, o da natureza do dinheiro, a derradeira arma dos fazendeiros. Por outro lado, fomos incorporando esses elementos nos processos de formação dos personagens, a partir de laboratórios em que lançamos mão de jogos e técnicas do teatro do oprimido (por exemplo, interrogatório na berlinda). Os seminários e laboratórios culminaram (e têm culminado) no processo de ensaios, durante os quais nos, professores e estudantes, definimos a dramaturgia. Nesta definição têm sido bem influente o trabalho do Coletivo Terra em Cena conta Blusa Azul, e o trabalho do Coletivo Fuzuê com o qual tomamos contato recentemente.
No fim das contas, não estamos remontando exatamente Posseiros e Fazendeiros: tomamos a peça como fio condutor para uma grande experimentação teatral, motivada pelo desafio de contar a questão agrária e camponesa do PI de um jeito que nos faça amar a liberdade, o trabalho e a Vida, e de aprender, tal como disse Nara Leão, a aceitar tudo, menos o que pode ser mudado. A estreia dirá se fomos capazes de informar, comunicar e mobilizar junto público essas questões e emoções tão necessárias na luta em defesa dos territórios camponeses.

            Kelci Anne Pereira



[1] A peça, montada pelo coletivo do MST “Filhos da Mãe...Terra”, sob direção de Douglas Estevam.

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