INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Teatro político e racismo: cenas de desopressão no Semex/UFPI.



"A carne mais barata do mercado é a carne negra", catavam alguns.  "Segundo o Mapa da Violência de 2014, 20.852 jovens negros  foram mortos entre 1980 e 2011, três vezes mais que o número de homicídios de jovens brancos", bradavam outros.   "Entre trabalhadores/as que possuem ensino superior, as mulheres negras recebem salários 36% menor do que os das mulheres brancas e 130% do que os dos homens brancos " , entoavam outros. 
Em uníssono som e movimento, funcionários e estudantes  foram entrando em cena para tratar do racismo no Brasil. Estávamos no início de novembro, no campus da UFPI em Bom Jesus/PI, no contexto da oficina "Teatro político: cenas da desopressão", no SEMEX (Seminário de Cultura e Extensão). Durante um dia longo e de intenso trabalho nos dispusemos a articular arte e política para o desmonte ideológico da democracia racial no Brasil: este mito que permanece como nosso espinho na carne desde tempos imemoriais. 
Dispondo de algumas técnicas e ferramentas do teatro épico, os participantes da oficina lançaram-se no desafio de  historicizar e didatizar as causas e efeitos do problema. A situação escolhida para tal foi a chacina  de um grupo de jovens da zona metropolitana do Rio de Janeiro, deflagrada pela polícia em março de 2018, durante um evento de hip hop.
  A partir de notícias de jornais e análises da situação feitas pelo movimento negro, foram incorporadas à cena as versões do fato: da polícia, impune, justificando o ato como resposta à delinquência dos jovens, acusados de uso de drogas. Familiares e ativistas afirmando tratar-se de um projeto sistemático de extermínio da juventude negra, a partir de um marco jurídico antidrogas que ao invés de focalizar direitos, promove a criminalização das parcelas mais vulneráveis da juventude.  A cena ainda levanta a hipótese de que as substâncias  ilícitas tenham sido colocadas pós morte nas mãos das vítimas, para encobertar um crime político, já que tratavam-se de jovens ativistas do movimento hip-hop.
A preocupação do grupo de participantes centrou-se ainda em evidenciar o racismo como um problema histórico, que não se encerrou em 1888, mudando somente em sua roupagem: outrora o senhor (e seu capitão do mato, um negro) contra os escravos; agora o Estado e sua justiça burguesa (atuante meio da polícia, muitas vezes negra)contra os que têm o "defeito de cor". Outrora açoitar para dar o exemplo aos outros de como se pune qualquer desobediência: chibatadas autorizadas por lei até o número 50, mas que inúmeras vezes eram excedidas ao extremo de causarem a morte do escravo; agora, aos que teimam em fazer da arte e da música sua resistência, novas demonstrações de força que levam a um desfecho muito semelhante e sempre envolvendo a artimanha de tornar inimigos quem não deveria ser : trabalhadores negros. 
A cena buscou explicitar que a demonstração de poder, força e dominação racial tem por finalidade transformar em coisa  um povo  - no caso o povo negro, massacrar seu senso de ser gente,  impingir em sua alma o sentido da servidão,  impedindo-o de ver-se a si mesmo como grupo portador de direitos, de reagir com rebeldia e organizadamente a qualquer forma de exploração e desumanização.

A oficina  foi ministra da pelo Coletivo Cenas Camponesas, nascido de um projeto de extensão a UFPI e que atua em colaboração com o coletivo Terra em Cena da UNB. O objetivo da atividade foi apresentar para um público iniciante no que consiste e quais as raízes históricas do teatro político e  quais suas intencionalidades  métodos e técnicas de representação da realidade. Sob tal perspectiva, a oficina foi pensada para problematizar como se pode tecer a amarração entre forma estética e social  para construir narrativas contra hegemônicas, colocando em cena o que os meios de comunicação de massa não colocam:  os trabalhadores e o modo como analisam os problemas da sociedade capitalista, suas resistências e as poéticas e políticas a elas subjacentes, os meandros pelos quais se produzem como classe consciente de si. 
Em termos metodológicos, destacaram-se na oficina: o uso de uma instalação pedagógica para explicar as origens e elementos (narrador, prólogo, coro, etc..) do teatro Épico, do Oprimido e AgitProp, enfeixados na categórica de teatro político; os jogos e exercícios teatrais, ligados à desmecanização do corpo, geração de confiança, atenção e criatividade;  rodas de conversa para sedimentar a experiência sensível e racional e fazê-la convergir para a construção de uma cena sobre racismo. 
Durante esses momentos da oficina fomos tematizado o teatro político como uma práxis  de formação dos sentidos e da consciência, bem como de organização social do povo. Também discutimos o fazer teatral como um processo de trabalho (o trabalho da cultura) fundamental à democratização da sociedade brasileira.
Experimentamos o corpo em movimento no tempo e no espaço, articulando palavra e imagem à  ética da desopressão. Fomos tentando misturar os ingredientes usados no teatro que, assumidamente político,  tenta dar força, pelas formas de comunicação e expressão que incorpora às narrativas de questões sociais desde uma perspectiva coletiva, contraditória, histórica. 
Como parte das reflexões da oficina, também dialogamos que, assim como o racismo, outros temas de ordem emancipatória podem ser abordados teatralmente, como por exemplo, o feminicídio,  a concentração de terras e a violência no campo, a misoginia, a exploração do trabalho infantil. Em todo caso, o trabalho de pesquisa e compreensão da realidade, bem como de experimentação com a linguagem,  precisa ser feito para provocar a reflexão e o encontro desnaturalizado do público com a cena. O que parece óbvio deve ser revirado pela cena, a relação causa de efeito precisa ser perscrutado, o público deve estranhar o que vê e o elenco surpreender-se em cada atuação. Na tentativa de construir um teatro da desopressão (não burguês e não dramático), educativo para o público e para o elenco, tratamos também do teatro fórum, em que a quarta parede é rompida e os expectadores entram em cena para resolver o conflito, tornando-se o que Boal chama de expect-atores. 
Com reflexões como essa encerramos a oficina, mas não o Semex, nem o que de arte e cultura houve no evento. Para  fechar o seminário,  o coletivo Cenas Camponesas apresentou ( pela 4ª vez) a peça "Luta nossa, camponesa!", que trata da grilagem digital de terras no sul do Piauí e de uma série de conflitos no campo envolvendo a expropriação de trabalhadores camponeses.
 Na sequência, houve a premiação dos melhores trabalhos de extensão apresentados durante o evento. Duas  das três premiações foram dirigidas a artigos produzidos no âmbito do Coletivo Cenas  Camponesas. A premiação marcou o reconhecimento público da relevância epistêmica e metodológica do projeto para a formação humana.
O teatro político, na extensão,  é um pequeno ensaio da  mudança que queremos ver nas pessoas, para que elas transformem o mundo. Precisamos expandi-lo, colocá-lo como forma de mediação e ação com o povo, com os trabalhadores, com os movimentos em todos os espaços. Acontecer na universidade é importante, mas não basta: o teatro deve estar nas ruas, praças, nas roças e fábricas. Em todos os lugares onde houver gente, onde a opressão estiver... Façamos presentes nossos coros, teses, prólogos, canções e corações, reinventando na imaginação a mudança da realidade. 


Kelci Anne Pereira – Professora da LEdoC/UFPI - Campus Bom Jesus
Coordenadora do Cena Camponesas



Mais Fotos:

sábado, 10 de novembro de 2018

Terra em Cena encerra o ano de 2018 fortalecendo os coletivos e projetando ações de 2019

Na primeira reunião do Coletivo Terra em Cena realizada após a III Mostra Terra em Cena e na Tela, realizada no dia 07 de novembro de 2018,  podemos notar que os objetivos traçados de fortalecimento dos coletivos e amadurecimento dos processos de trabalho estão sendo alcançados, por medidas como as seguintes, que foram informadas na reunião:
·     Ampliação de repertório: o Coletivo VSLT incluiu em seu repertório a peça Scottboro do Proletbuhne a partir de versão adaptada pela Escola de Teatro Político do Distrito Federal e Entorno e com isso abre maior espaço para o debate sobre o racismo e o genocídio da população negra no Brasil;
·     Intercâmbio entre os grupos: o coletivo Arte Kalunga Matec informa realização de intercâmbio com o coletivo VSLT, ou seja, os dois grupos do Território Kalunga passam a dialogar de forma mais consistente, e Ana Carolina informa da possibilidade em breve de criação de mais um grupo na região, na comunidade São José;
·     Construção de sedes dos coletivos: o grupo Arte e Resistência Jovem informa do planejamento de construção de uma sede construída nos padrões da bioconstrução; o Arte e Kaluga Matec tem uma sede construída com a economia das bolsas de extensão que receberam em projetos anteriores. 
·     Ampliação do diálogo com as escolas do campo: o programa de extensão Terra em Cena participa do curso Escola da Terra ofertado para 120 professores de escolas do campo do DF, coordenado pela professora Eliene Novaes, ministrando aulas de teatro e audiovisual, pelos professores Adriana Gomes, Felipe Canova e Rafael Villas Bôas, articuladas às metodologias de educação popular, visando fortalecer o processo de formação estética e política e a organização social nos territórios e comunidades.
·     Atividades do grupo de pesquisa: o projeto Terra em Cena conta Blusa Azul está em fase de finalização, com a edição do documentário do processo de trabalho com as cenas “O trabalho doméstico e a operária”, “Os ais atuantes contra todas as doenças” e “De pé para lutar escravos colonizados!”. Durante o processo pudemos fortalecer vínculos com pesquisadores e coletivos, como o professor Diego Moskovich, especialista em teatro russo e soviético, a Cia Estudo de Cena (SP) e o Coletivo Semente (Gama-DF) que estiveram conosco na filmagem da versão para vídeo da peça “De pé para lutar, escravos colonizados!” realizada no dia 4 de novembro no espaço do Coletivo Semente, do Gama. 
 Contamos também com processos de qualificação de pesquisas de Doutorado do professor Felipe Canova e de mestrado de Adriana Fernandes, Adriana Gomes e Tállyta Abrantes. E até o final do ano ainda teremos várias defesas de monografia de graduação dos integrantes da oitava turma da Licenciatura em Educação do Campo da UnB e o exame de qualificação de doutorado da pesquisa da professora Rayssa Aguiar Borges;
 Recebemos também na reunião três novos integrantes das turmas mais recentes da LEdoC;
 em 2018 o Terra em Cena conseguiu em dois editais obter sete bolsas para integrantes da graduação da UnB se dedicaram aos processos de pesquisa e trabalho na ETPVP-DF e nos grupos do território Kalunga e ARJ, de Flores de Goiás.

Para 2019 temos expectativa de poder receber em Planaltina o 1º Festival das Escolas da Rede de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra América, no meio do ano. Para isso a Rede concorreu a recurso por editais e aguarda o resultado dessas tentativas. E esperamos poder realizar a IV Mostra Terra em Cena e na Tela no campus de Bom Jesus da Universidade Federal do Piauí, sede do Coletivo Cenas Camponesas, vinculado à Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Ciências Sociais ofertada naquele campus. Uma meta traçada é entramos em contato com outras universidades em que há iniciativas de trabalho com Educação do Campo, Cultura e Formação para podermos ampliar a rede de coletivos do Terra em Cena, potencializando a produção e circulação dos trabalhos desenvolvidos pelos diversos estados, campi de universidades e institutos e pelas comunidades dos territórios quilombolas e assentados que trabalhamos.
Por fim, nossa primeira atividade em 2019 deve ser uma caravana organizada em parceria com o Coletivo Fuzuê e Núcleo de Estudos em Teatro Político, da UFSJ, coordenado pela professora Carina Guimarães, que partirá da FUP rumo ao território Kalunga parando pelos territórios de assentamento e quilombo em que temos coletivos atuando, para se apresentar, intercambiar experiências e fazer oficinas. A atividade deve se constituir como um seminário de Tempo Comunidade articulando os regimes de alternância da LEdoC da UnB e da ETPVP-DF.

Rafael Litvin Villas Bôas

Coordenador do Programa de Extensão Terra em Cena da FUP/UnB


(Coletivo Fuzuê - UFSJ)


(Fotos da Reunião Geral do Terra em Cena - Faculdade UnB de Planaltina)

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

🇧🇷 ||É a hora da virada!|| Pela Democracia Contra o Fascismo!



🇧🇷 ||É a hora da virada!||

Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união

#EleNão
#Haddad13

Intervenção da Escola de Teatro Político e Vídeo Popular DF

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Terra em Cena conta Coletivo Blusa Azul


Terra em Cena conta Coletivo Blusa Azul - Cena 1 - O Trabalho Doméstico e a Operária

A Cena 1 – O trabalho doméstico e a Operária é uma peça típica do gênero do teatro de agitação e propaganda, que aborda, em chave alegórica, a superexploração do trabalho feminino e a necessidade da organização das mulheres operárias para enfrentar o problema conquistando espaços coletivos como creches, refeitórios, lavanderias, para que homens e mulheres pudessem dividir o trabalho de forma igual no contexto da tentativa de fortalecer uma cultura política atenta à luta contra o patriarcado e a divisão alienada do trabalho, na conjuntura de consolidação das bases da revolução soviética.


Renan Rovida, do Coletivo Tela Suja (SP), dá aula no 1º e 3º módulo da ETPVP-DF e fortalece os intercâmbios da Rede de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra América


O ator e diretor de teatro e cinema, Renan Rovida, coordenador do Coletivo Tela Suja, de São Paulo, esteve pela segunda vez, no dia 18 de setembro, como professor na Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do Distrito Federal. 
Nas duas ocasiões em que esteve na ETPVP-DF, aproveitou a vinda para o Festival de Cinema de Brasília, nas edições de 2017 e 2018, em que participou como ator de filmes integrantes da mostra competitiva, para participar conosco de atividades formativas. 
No primeiro módulo realizado no segundo semestre de 2017 Renan e parte da equipe exibiu e debateu o filme “Sem Raiz” dirigido por ele. Em setembro de 2018, no terceiro e último módulo da primeira turma da ETPV-DF Renan discorreu sobre as diferenças e semelhanças da interpretação para cinema e para o teatro, e exibiu um filme em construção, versão adaptada da peça “A padaria” de Bertolt Brecht.
A tecitura da Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político Popular Nuestra América vai se constituindo de gestos de solidariedade política como o de Renan, ciente da relevância do acúmulo que detém enquanto artista e militante que atua com diversos coletivos de teatro e vídeo, e do valor que a socialização dos meios de produção dos bens simbólicos tem para cada uma das escolas da rede.

Rafael Villas Bôas
Professor da UnB e integrante da coordenação da ETPVP-DF

Mais fotos:

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Apresentações Terra em Cena conta Coletivo Blusa Azul


[...] 
O mar da história
É agitado.
As ameaças
E as guerras
Havemos de atravessá-las.
Rompê-las ao meio,
Cortando-as
Como uma quilha corta
As ondas.
(Maiakóviski)

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

🚩 TERRA EM CENA TAMBÉM É #ELENÃO

O Coletivo Terra em Cena apoia os atos #EleNão, que ocorrerão em todo país neste sábado (29).

O Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária, quilombolas e no meio urbano. Atualmente, está organizado no Distrito Federal e no Piauí.

#EleNão
#EleNunca



Apresentações: Terra em Cena conta Coletivo Blusa Azul


Informar, formar e organizar: essa é a proposta do Coletivo Terra em Cena. Dentro de sua militância em comunidades rurais, acampamentos, assentamentos e comunidades quilombolas, o coletivo procura criar propostas educativas, para uma comunicação que rompa fronteiras e fale de questões sociais e políticas, através de ferramentas como o teatro e o vídeo popular.

Em seu mais novo projeto, intitulado Terra em Cena conta Coletivo Blusa Azul, o grupo se inspira em cenas teatrais de experiências de agitação e propaganda e teatro político do Coletivo Blusa Azul, atuante na década de 1920, em Moscou e no interior da União Soviética. As cenas informavam sobre a vida e os problemas da classe trabalhadora naquela época, na sua maioria analfabeta.

A pesquisa das formas estéticas e dramatúrgicas do Blusa Azul resultou na montagem de três cenas e circulação por escolas rurais e instituições de ensino superior. A ideia é criar um diálogo, de maneira poética e sensível, entre dois sistemas sociais periféricos: o russo, da segunda década do século XX, e o brasileiro da segunda década do século XXI. Os espetáculos vão circular de 26 de setembro a 03 de outubro, por espaços educacionais de Planaltina, Brazlândia, São Sebastião e Paranoá.

PROGRAMAÇÃO:

- 26 de Setembro (quarta-feira), às 11h, na Escola Parque Natureza (Brazlândia)

- 27 de Setembro (quinta-feira) às 18h, Centro Cultural da ADUNB / UnB Campus Darcy Ribeiro (Asa Norte)

- 01 de Outubro (segunda-feira), às 10h, na Escola Classe da Pedra Fundamental (Planaltina)

- 01 de Outubro (segunda-feira), às 16h30h, no Centro Educacional São Francisco (Chicão - São Sebastião)

- 03 de Outubro (quarta-feira), às 10h20, no Centro Educacional do PAD-DF (CEd PAD-DF - Paranoá)

- 03 de Outubro (quarta-feira), às 16h, no Instituto Federal de Brasília (Campus Planaltina)


III Mostra Terra em Cena e na Tela e I Mostra da Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF

Na Semana Universitária no campus de Planaltina da UnB aconteceu a III Mostra Terra em Cena e na Tela e 1ª Mostra da ETPVP-DF durante os dias 24 e 25 de setembro.

A nossa III Mostra Terra em Cena e na Tela, contou com a participação de todos os nossos elencos e uma seleção de filmes feita por Adriana Gomes e Camila Dutervil, com debates após as peças e filmes. 

Foi realizada uma importante assembleia que reuniu todos os integrantes do Terra em Cena na segunda (24) à tarde e com um momento de oficinas de formação na terça (25) pela manhã com Oficina de Comunicação Popular com Adriana Gomes e Janes Ferreira, Dança com Adriano Duarte, Coros no Teatro Épico com a Cia Burlesca e Projetos Culturais com Viviane Pinto.

As atividades formativas tem a intenção de darmos um salto organizativo criando equipes de trabalho no Terra em Cena, com representantes de todos os grupos nas equipes, para facilitar a nossa comunicação, para apoiar os grupos na captação de recursos via editais, para dinamizar nosso processo formativo articulado à organização social das comunidades e movimentos nos territórios.



quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Escola de Teatro Político e Vídeo Popular completa um ano de construção em rede no Distrito Federal



No dia 23 de agosto de 2018 a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do Distrito Federal (ETPVP-DF) completou seu primeiro ano de funcionamento. A escola integra a Rede Latinoamericana de Teatro e Vídeo Político Popular Nuestra América, uma articulação de movimentos sociais, coletivos de teatro e vídeo político popular e grupos de pesquisa, que se reuniu para construir processos formativos permanentes e interligados, pautados pela dimensão da práxis enquanto método e filosofia.
Atualmente estão em funcionamento a Escola de Teatro Político de Buenos Aires, a Escola de Teatro Popular do Rio de Janeiro, a nossa escola do DF e mais duas escolas em processo de construção: a Escola de Teatro Político de Florianópolis (Estepo) e a escola de São Paulo.
A ETPVP-DF está sediada na Casa da América Latina da UnB, no Setor Comercial Sul de Brasília, próxima a rodoviária do plano piloto e do metrô, para facilitar o acesso dos participantes da escola, que na primeira turma têm representantes de nove, das trinta regiões administrativas, do Distrito Federal. A construção da turma partiu da estratégia de tecitura de uma rede de produção e circulação do teatro político e vídeo popular que englobe escolas públicas, casas de cultura, espaços de movimentos sociais e campi de universidades públicas. Temos, na primeira turma, professores da rede pública de ensino do DF, militantes de movimentos sociais urbanos e rurais, como o Levante Popular da Juventude e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), integrantes de casas de cultura de diversas regiões administrativas do DF e estudantes de ensino médio e superior.
Desde o primeiro módulo foi decidido pela turma, em conjunto com a coordenação político pedagógica da escola, que os temas centrais da pesquisa estética e política que a primeira turma faria no decorrer dos três módulos seria a articulação entre os eixos fascimo-racismo-patriarcado e as formas de luta contra essa estrutura de poder crescente no Brasil.
Como método de trabalho o processo é mais importante que o produto final: temos experimentado técnicas teatrais, desde as formas e métodos do Teatro do Oprimido ao Teatro Dialético. Estamos vendo e debatendo trabalhos de vídeo popular e filmes de diversos cinestas e períodos históricos, e iniciamos nossos experimentos de produção audiovisual.
Na comemoração de um ano da escola apresentamos uma leitura dramática encenada da  peça de agitprop Scotboorodo Proletbuhne, uma ação de protesto contra o racismo, a partir da denuncia do caso de nove jovens negros americanos acusados de assaltar duas mulheres brancas. O intuito da acusação era a pena de morte para todos, a despeito da ausência de provas e da desproporção da pena para uma acusação de assalto. 
A peça foi apresentada no período (1935) por muitos coletivos de teatro político, como intervenção que precedia a apresentação dos trabalhos dos grupos, como gesto de solidariedade à luta anti-racista. Acreditamos que esse tipo de ação coletiva pode ser recuperada como prática política pela Rede de Escolas de Teatro e Vídeo político popular Nuestra América. A ETPVP-DF produziu, em laboratório, uma versão adaptada da dramaturgia da peça para assimilarmos a questão do racismo estrutural brasileiro e o genocídio da população joven negra do país. 
Foram exibidos, também, dois vídeos de intervenção realizadas pela primeira turma da escola. Uma ação de teatro de agitprop realizada no salão verde do Congresso Nacional, no momento em que seria pautada na Câmara dos Deputados a questão da Reforma da Previdência, em dezembro de 2017. E uma ação em conjunto com uma brigada de agitprop dos movimentos sociais no Tribunal Superior Eleitoral, em julho de 2018, para denunciar a arbitrariedade do poder judiciário brasileiro com as manobras para o impedimento do registro da candidatura do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva à presidencia da república.
O vídeo da intervenção no TSE é fruto dos momentos de estudo e laboratório da relação entre as linguagens do teatro e do audiovisual. Nesse caso, a filmagem foi estudada como um elemento da intervenção, com os movimentos das câmeras sendo integrado ao movimento dos atores, fornecendo pontos de vista mais próximos dos pontos de vista dos personagens, buscando estranhar o padrão de enquadramento dos telejornais brasileiros.
A ETPVP-DF se tornou, durante seu primeiro ano de vida, um espaço de formação estética e política, com a maioria de seus debates abertos para toda a comunidade, um espaço de recuperação de métodos e formas desenvolvidas em tempos tão ou mais difíceis que o nosso, e que na conjuntura atual, voltam a ser demandados para fortalecer a resistência contra a ampla gama de retrocessos impostos às esferas da política, da economia e da cultura.

Coordenação da ETPVP-DF
Mais fotos:



Intercâmbio entre Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e do campus de Bom Jesus da UFPI fortalecem articulações entre Educação, Cultura e Direito.


Nos dias 02 e 03 de agosto de 2018 ocorreu no campus de Bom Jesus, da Universidade Federal do Piauí, o 1º Seminário e 1º Ciclo de Oficinas Culturais da Licenciatura em Educação do Campo (Ledoc)/CPCE: arte, direito e educação na construção da resistência camponesa. O evento teve como objetivo promover reflexões, intercâmbios e práticas acerca da arte, do direito e da educação na construção da resistência camponesa, rumo à emancipação social dos sujeitos do campo.
A Educação do Campo da UnB esteve representada pela coordenadora do curso de Licenciatura em Educação do Campo, professora Eliene Novaes Rocha, também integrante do Fórum Nacional da Educação do Campo (Fonec), pela professora egressa da Ledoc Adriana Gomes, mestranda da Faculdade de Educação da UnB e pelo professor Rafael Litvin Villas Bôas, da Ledoc e coordenador de extensão da Faculdade UnB Planaltina.
Na manhã do primeiro dia foram apresentados os resultados da pesquisa coordenada pelos professores Ozaías Batista e Socorro Pereira da Silva, sobre o "Perfil socioeducacional dos discentes da Educação do Campo". A riqueza e minúcia dos dados coletados e sistematizados permitiu um diagnóstico do público discente da Ledoc/Bom Jesus, abordando questões como renda média das famílias, principais dificuldades para a permanência e conclusão do curso, relação com os movimentos sociais, etc. O questionamento sobre os dados oportunizou o debate sobre a metodologia da pesquisa, a partir do indagações sobre os critérios e focos do levantamento, aplicada à realidade dos próprios estudantes. 
A mesa sobre “Arte, direito, educação e política na construção da resistência camponesa: do planalto central à região do PDA Matopiba”, realizada a tarde, contou com a presença dos dois professores da UnB e do juiz Eliomar Rios da Vara Agrária de Bom Jesus-PI. Caso raro no meio judiciário brasileiro atual, o juiz demonstrou conhecer in locoas comunidades rurais do sul do Piauí, muitas vezes envolvidas em conflitos fundiários para resistir aos interesses do grande capital, que investe na estrangeirização de terras e produção em larga escala para exportação. A fala do juiz  deixou claro que os empreendimentos do agronegócio produzem efeitos danosos ao meio ambiente e aterradores à população local, a partir de expedientes como grilagem e grilagem digital da terra, associados à exploração do trabalho em fazendas pecuaristas e sojeiras, à privatização da água do subsolo para irrigação e ao uso livre de agrotóxicos e demais componentes do pacote tecnológico da agricultura capitalista. 
A mesa destacou-se ainda por abordar o entrelaçamento entre soberania territorial, soberania alimentar e soberania cultural, articuladas à soberania nacional, enquanto demanda de construção de um projeto de nação.
Tais articulações foram aprofundadas no segundo dia de evento, por meio da exposição do Sr. Carlos Humberto Campos (Cáritas Brasileira), cuja exposição foi antecedida por dois juris simulados, encenados por estudantes da Ledoc: um que abordou o tema das desigualdades de gênero no campo e outro que abordou a contradição entre os projetos de desenvolvimento do campo  (capital x trabalho) evidentes, entre as chapadas e baixões, na região do Vale do Gurguéia (sul do PI). O debate contou com forte participação de estudantes e professores da UFPI e de representantes dos movimentos sociais e sindicais presentes (CPT, MST, Fetag, Cáritas, Movimento Quilombola, etc).
O esforço de articular os temas do Direito, da Cultura e da Educação esteve presente também nas apresentações culturais do Coletivo Cenas Camponesas, estreando a peça "Luta Nossa, camponesa" (projeto de extensão da Ledoc/UFPI), do grupo de teatro Improvisa Cantídio, da escola municipal de Cantídio/Comunidade Rural de Corrente dos Matões (Bom Jesus/PI), e do grupo de Maculelê da Comunidade Quilombola Brejão dos Aipins (Redenção/PI). 
Os dois grupos de teatro que se apresentaram, um de adolescentes de uma escola e outro de estudantes da Ledoc, abordaram dinâmicas do conflito fundiário no sul o PI: o tema da grilagem digital de terras e as consequências para a população camponesa, no caso do primeiro grupo, e as ameaças de jagunços que uma família de agricultores sofre para vender suas terras para um fazendeiro, no caso do segundo grupo. Nos dois casos o teatro tratou da questão agrária brasileira e dos conflitos fundiários a ela subjacentes, buscando dar forma estética aos problemas políticos e econômicos vivenciados pelas comunidades que vivem na fronteira agrícola de expansão do agronegócio, conhecida como Projeto de Desenvolvimento Agrária (PDA) Matopiba, por estar em área de fronteirados estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Por diferentes e criativos métodos, o seminário tratou de socializar conhecimentos em diferentes áreas, de maneira articulada, e envolvendo diferentes setores da sociedade e do Estado. Cabe destacar os concursos realizados na noite cultural, de forró, de melhor cachaça artesanal da região, de melhor doce caseiro e de melhor farinha de mandioca. Para cada atividade os concorrentes tinham que explicar a origem e o modo de produção dos produtos e os jurados tinham que elucidar ao público a razão de suas escolhas, tendo em vista os critérios previamente adotados. Além de divertida, a proposta se mostrou eficaz instrumento de propaganda da produção culinária da agricultura camponesa, dando voz aos produtores e produtoras locais.
            Por fim, cabe salientar que o encontro proporcionou o intercâmbio entre as experiências de extensão dos campus de Planaltina da UnB e de Bom Jesus da UFPI e desenhou possibilidades de fortalecimento do intercâmbio entre as ações das duas licenciaturas e dos dois campi, os quais possuem características semelhantes. O próximo encontro da agenda é a vinda do grupo Cenas Camponesas para se apresentar na III Mostra Terra em Cena e na Tela, organizada pelo Coletivo e programa de extensão Terra em Cena, a ser realizada nos dias 24 e 25 de setembro de 2018, durante a Semana Universitária da UnB.

Eliene Novaes, Rafael Villas Bôas (professores da Ledoc/UnB), Kelci Pereira (professora da Ledoc/UFPI-Bom Jesus) e Adriana Gomes (Mestranda da FE/UnB)

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Se há tanta riqueza por que somos pobres?

Em laboratório do Terra em Cena coletivo VSLT trabalha em nova versão de peça sobre impactos da mineração no território Kalunga.

O coletivo Vozes do Sertão Lutando por Transformação (VSLT), um dos grupos que fazem parte do Coletivo Terra em Cena – programa de extensão e grupo de pesquisa da UnB –  esteve no final de semana de 25 e 26 de agosto em imersão para trabalho de laboratório com a peça sobre as ameaças e consequências da atividade minerária de grandes corporações em territórios de comunidades quilombolas e rurais. A estrutura narrativa da peça reflete sobre a pergunta feita pelo coro no prólogo: “Se há tanta riqueza porque somos pobres?”
O Coletivo surgiu em outubro de 2013 após oficina que o Coletivo Terra em Cena ministrou na comunidade Engenho II para o grupo Arte e Kalunga Matec e outras pessoas interessadas. Atualmente, o grupo é composto por estudantes de diversos semestres da Licenciatura em Educação do Campo da UnB, de comunidades quilombolas Kalunga de Cavalcante e Teresina de Goiás, e por adolescentes Kalungas que moram em Cavalcante e cursam o ensino médio.
A peça já foi apresentada em dois seminários de Tempo Comunidade da Ledoc da UnB na região: em novembro de 2017, em Cavalcante, e em Teresina de Goiás, em maio de 2018. O laboratório consistiu na ampliação da expressão corporal do elenco, por meio do trabalho de composição de imagens cênicas articuladas à declamação de poemas, e na reconfiguração dos elos entre as cinco cenas que compõem a peça, além do prólogo e epílogo. Partimos de exercícios como a Máquina de Ritmo, do sistema do Teatro do Oprimido, para construir um trem com os corpos do elenco, por exemplo. Brincadeiras infantis como João Bobo foram utilizadas na construção de cenas: o movimento desse jogo foi assimilado para descrever em cena o movimento pendulante de uma personagem que é pressionada pela empresa minerária, de um lado, e pela comunidade contrária à retomada da mineração, por outro.
O trabalho cultural em desenvolvimento pelo Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) foi de grande valor para o laboratório que fizemos. Como alguns dos integrantes do coletivo VSLT são integrantes dessa organização, trouxeram para a cena uma das canções (Dragão de Ferro) construídas pela Brigada Nacional Carlos Drummond de Andrade, no período em que esteve trabalhando em Conceição do Mato Dentro (MG), e também disponibilizaram ao grupo vários exemplares do livro Poema Mineral, coletânea de poemas organizada pelo MAM, que agrega pormas de diversos poetas que abordam a questão da mineração. Com esse material à disposição pudemos ler e selecionar poemas de Carlos Drummond de Andrade para incorporar à estrutura da peça. Também incorporamos no texto um poema Haikai, de Infinita Devi, uma poeta e atriz que reside em Cavalcante: “Sangram engrenagens! Morrem paisagens...”
O trabalho com poemas nos demandou o desenvolvimento de uma linguagem corporal que pudesse dialogar com as formas do texto poético, para isso construímos frases coreográficas a partir da dinâmica do mundo do trabalho da mineração, em contraponto à frases inspiradas nas formas de animais da fauna do território ameaçado pela atividade minerária.
Na noite de sábado o elenco se reuniu para assistir ao vídeo “Narrativas de Ferro” feito em parceria do MAM com a cia Estudo de Cena. Uma das integrantes do VSLT, Ana Leda, participou da construção do vídeo e pôde detalhar o método de construção do trabalho, que articula depoimentos de moradores, dados do impacto minerário na região de Conceição do Mato Dentro (MG) e no Brasil, e trabalho com teatro imagem e improvisação dos membros da oficina ministrada para construção do filme. As cenas construídas abordam o medo da comunidade com o risco de rompimento da barragem de rejeitos, tal como ocorreu na cidade vizinha de Mariana, e contaminou 800 km do rio.
A nova versão da peça do VSLT, que agrega à estrutura épica da peça as linguagens da poesia, do audiovisual e da dança  será apresentada no seminário de Tempo Comunidade que ocorrerá entre 21 a 23 de setembro no território Kalunga, em Cavalcante,  e na sequência, no dia 24 de setembro à tarde, no campus de Planaltina da UnB, como parte da programação da III Mostra Terra em Cena e na Tela, atividade que integra as ações da Semana Universitária na FUP.
Participaram do laboratório, além dos integrantes do grupo, os professores da Ledoc e integrantes do Terra em Cena Rafael Villas Bôas, Caroline Gomide e Eliene Novaes.

Rafael Villas Bôas
Coordenador do programa de extensão e grupo de pesquisa Terra em Cena




domingo, 26 de agosto de 2018

Nota do Coletivo Terra em Cena em homenagem a João das Neves


O Coletivo Terra em Cena rende homenagem a João das Neves (1934-2018), um dos principais nomes da história do teatro político brasileiro. João das Neves foi integrante do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, e era um dos responsáveis pelo teatro de rua e pelo teatro de agitação e propaganda (agitprop).  Apesar do golpe ter destruído o CPC, as Ligas Camponesas, o Movimento de Cultura Popular (MCP) João das Neves procurou meios de seguir de forma coerente com seu trabalho como homem de teatro, diretor, formador, dramaturgo, cenógrafo, iluminador, atuando no grupo Opinião de 1964 à 1984 e depois no estado do Acre, no grupo Poronga, longe dos holofotes, coerente com o projeto do CPC, de multiplicar, capilarizar, criar vários focos de produção de cultura política e resistência no país.
Conhecemos João das Neves quando ele veio a Brasília apresentar a remontagem de Arena conta Zumbi, peça do Teatro de Arena, escrita no contexto de resistência ao golpe de 1964 e à ditadura militar e civil. Na versão de João das Neves o elenco era negro, formado por atores e atrizes de Belo Horizonte. O quilombo estava construído no palco, as paliçadas erguidas, como a demarcar que o tempo passou e não passou. Fomos com uma turma da Licenciatura em Educação do Campo da UnB, de maioria quilombola, do território dos Kalunga. Lá fizemos o convite a ele para que se apresentassem no quilombo, o maior do Brasil, com 254 mil hectares. Eles toparam prontamente. Mas depois de muito corrermos atrás com a produção da peça não conseguimos alavancar recursos suficientes para levar o trabalho ao quilombo. Naquele dia, João conversava conosco, na boca de cena, tecia os elos com o passado, do CPC aos dias de hoje, pautava de forma enérgica que é era um trabalhador do teatro, e portanto, precisava lutar pelas condições de trabalho e vida a partir de seu ofício.
João das Neves não parou de trabalhar até a morte. Esteve envolvido com oficinas de formação, com escolas de artes do MST e do Levante Popular da Juventude, transferindo sua experiência para as novas gerações, desfazendo os estigmas e estereótipos sobre as experiências de arte engajada do passado, que colaboraram para o desconhecimento daquelas experiências pela maioria da população brasileira. Que fiquemos com o exemplo de coerência de João das Neves, de Augusto Boal e tantos outros e outras daquela geração, que se empenharam até a morte na socialização dos meios de produção da linguagem teatral e da arte em geral, para que o povo possa utilizar o teatro e a arte como arma, e como queira, como expressão de um direito humano inalienável.

João das Neves presente, presente, presente!