INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

domingo, 1 de abril de 2012

Mutirão em Novo Sol: Rompendo a Sucessão de Presentes Absolutos


Brigada Semeadores
Encontro dia 28/10/2009
Leitura e discussão da peça Mutirão em Novo Sol

Protocolo

Mutirão em Novo Sol
Rompendo a Sucessão de Presentes Absolutos 

Por Rayssa Aguiar Borges


Umas das características da forma dramática é a seqüência de presentes absolutos. Em cena, só acontece o tempo presente, quando se torna passado, não mais está em cena. Também não há passado e futuro fora da peça, ou seja, fora de um desses presentes absolutos. Em suma, ao drama absoluto só cabem histórias presentes, suas razões não se encontram no passado e suas ações (ou soluções) não se projetam para o futuro.


Em Mutirão em Novo Sol, presente e passado estão intercalados, e cada cena presente evoca cenas passadas. Alguns dos argumentos proferidos no presente têm no passado sua razão, buscam no passado sua justificativa ou legitimação – como o argumento do Coronel Porfírio, de que tem o direito à propriedade das terras porque herdou-as, no passado, de seu pai, de seu avô, de seu bisavô...
A história de Mutirão em Novo Sol não começa quando começa a peça, começa antes até mesmo dos retrocessos[1]: o contrato entre Porfírio e os Lavradores já havia sido feito, os lavradores já estavam trabalhando a terra. Tampouco termina quando termina a peça. O final, que acontece em tempo presente (última cena do Tribunal), indica que agitação e luta continuarão, assim como as medidas do Governo e as forças militares também não cessarão. A última fala do Representante do Governo projeta a ação para o futuro: medidas que o governo tomará; forças militares que serão mobilizadas... A fala anterior de Roque também lança perspectivas para o futuro, no futuro encontra-se a liberdade: “A nossa lei há de libertar todos os trabalhadores do mundo. [...] essa gente não pára nunca”.
O conflito não se resolve em cena, um procedimento bem brechtiano, posto que não vale resolver o conflito na peça e não resolvê-lo na vida. A obra não deve confortar-nos e sim instigar-nos a prosseguir, a lutar, a transformar. Mais valem, no teatro, os problemas não resolvidos, os conflitos não apaziguados, os finais não solucionados.
Aqui, a cena final (em tempo presente) está prenhe de futuro, e a cena inicial (também em tempo presente) está saturada de passado. Passado, presente e futuro não se desamarram, mas se entrelaçam cada vez mais, em um emaranhado dialético. E assim rompe-se a sucessão de presentes absolutos.
Romper a sucessão de presentes absolutos aqui quer dizer mais do que intercalar dialeticamente cenas de “Tribunal” e “Retro”. Quer dizer romper com a “tradição de presentes” no teatro brasileiro.[2] Quer dizer romper com a “tradição de herança” tanto no teatro brasileiro – que por muito tempo herdou formas, procedimentos, textos e até encenadores – quanto nas terras brasileiras, nas terras herdadas do pai, do avô, do bisavô de tantos “Porfírios” – posto que esta peça consista na formalização estética de um levante que aconteceu de fato. Eis aqui um rompimento estético de grande valor.


Brasília, 30 de outubro de 2009.


[1] Aqui é necessário fazer um adendo, pois a história de Mutirão em Novo Sol começa mesmo antes da redação da peça, começa em Jales, no ano de 1959, com um levante camponês que ficou conhecido como “Arranca Capim” e cujo depoimento de uma das lideranças do movimento dará início a escrita da peça, como uma sistematização estética do levante, como uma formalização estética daquela experiência.
[2] Esse comentário é feito aqui sem a realização do devido resgate histórico da dramaturgia nacional, contudo, à primeira vista, creio que o procedimento de idas e vindas ao passado, materializado em cena e não apenas pelo diálogo, tenha sido pouco utilizado até sua incorporação pelo teatro político do fim da década de 1950, início da década de 1960.







LEdoC, Projeto de Extensão TERRAemCENA 
e Brigada Semeadores
Mutirão em Novo Sol 
Teatro da FUP  (junho de 2011)


  

Canção do Arranca Capim Colonião






Tribunal (Julgamento)





Retro (Assembléia)


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