INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

terça-feira, 13 de junho de 2023

O USO DO MÉTODO DOS PROTOCOLOS NAS DISCIPLINAS DE TEATRO DA LEDOC



Em algumas disciplinas de teatro da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) da Universidade de Brasília (UnB) adotamos como uma das tarefas do processo avaliativo a produção de protocolos, inspirada em um procedimento brechtiano, de estímulo para que todos os integrantes de um processo de montagem possam escrever reflexões ou pensar por meio de outras linguagens. No caso de Brecht, isso envolvia a rotina de ensaios, e do processo dos protocolos participavam o elenco, a direção e todo o naipe das funções técnicas do aparelho teatral. No caso da LEdoC adaptamos a metodologia para o cotidiano das aulas, de modo que, no início de uma aula, há o espaço para a leitura de protocolos referentes às aulas anteriores. O método nos permite reaquecer intelectualmente o ambiente da sala de aula, com reflexões, considerações, poemas, desenhos, etc, que a turma ou os professores e monitoras trazem de uma aula outra. 

Em chave sintética, os protocolos são sínteses reflexivas que devem considerar alguns dos temas trabalhados na disciplina, podendo explorar aspectos do debate que ocorreu na aula, e os textos indicados para leituras complementares. Quando estamos em processo de montagem os protocolos trazem idéias, propostas de cena, de música para cena, de prólogos ou epílogos, de adereços, de referências, sempre com a reflexão acionada pelo que ocorreu nos ensaios, aulas ou debates anteriores.


 

Relacionamos abaixo alguns exemplos de protocolos.

 

Protocolos da educanda Natália Lorena Barbosa Lima para disciplina Oficina Básica de Artes Cênicas do 1º semestre de 2023.

 

Protocolo 1 

 

Nas aulas de OBAC, estamos analisando e enxergando as artes cênicas sob um outro ponto de vista, sob um viés emancipatório que expõe e critica a realidade, as contradições e coloca os sujeitos comuns, nós, como sujeitos de nossa própria realidade, como protagonistas e personagens desse grande teatro que é a vida. É muito importante conhecermos os princípios do Teatro do Oprimido para nos enxergarmos e vermos o outro como atores e espectadores que fazem e observam – criticamente – a realidade, que são expressivos, capazes de externalizar suas opiniões e de conhecer e analisar criticamente seu contexto.

 Eu, como educadora em construção, já não consigo mais pensar em fazer uma aula de artes maçante, escrevendo os conteúdos de forma mecânica no quadro apenas para os estudantes copiarem. Eu digo isso porque esse foi o tipo de ensino que tive, no qual copiava o texto no caderno e mal lia o que estava escrito, pois era algo chato e que não fazia sentido para mim. Vivi a minha vida vendo as artes como parte dispensável do currículo escolar e da vida... da minha e de outros. Os jogos, as reflexões, os princípios que estamos conhecendo aqui transformam e dão base para repensarmos o tipo de cultura e de educação que queremos conhecer e (re) produzir nas escolas e na vida cotidiana.

 

Protocolo 2 

 

Em nosso dia a dia, a nossa percepção sensorial das linguagens, do corpo, das emoções, às vezes é superficial. Na mesa que assistimos com os professores de artes cênicas da Secretaria de Educação do GDF, o professor Adriano Duarte trouxe a ideia de teatro como experiência sensorial, ao estimular os vários sentidos humanos: o físico, o emocional, o social, histórico, cultural e intelectual.

Em nossa última aula, no dia 27, ficamos observando a Crystal, bebê filha da estudante Rayane, interagir com seu próprio corpo e com o ambiente. Ela ria, gritava, se colocava de cabeça para baixo, experimentava colocar coisas na boca, mexia as mãos, procurava por atenção... quando interagíamos com ela, ela percebia que todas as suas ações provocavam uma reação nas outras pessoas e, quanto mais reação positiva recebia, mais ela se empolgava. Essa espontaneidade e sensibilidade se tornam mais “dormentes” conforme crescemos; aprendemos que rir ou falar alto, gritar, gesticular de forma expansiva não são coisas educadas, e as nossas formas de expressão passam a se apoiar mais na fala e menos no corpo como um todo. A questão é que o ser humano é corpo, sensações, percepções, é voz, mente e mundo. 



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