INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

domingo, 26 de agosto de 2018

Nota do Coletivo Terra em Cena em homenagem a João das Neves


O Coletivo Terra em Cena rende homenagem a João das Neves (1934-2018), um dos principais nomes da história do teatro político brasileiro. João das Neves foi integrante do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, e era um dos responsáveis pelo teatro de rua e pelo teatro de agitação e propaganda (agitprop).  Apesar do golpe ter destruído o CPC, as Ligas Camponesas, o Movimento de Cultura Popular (MCP) João das Neves procurou meios de seguir de forma coerente com seu trabalho como homem de teatro, diretor, formador, dramaturgo, cenógrafo, iluminador, atuando no grupo Opinião de 1964 à 1984 e depois no estado do Acre, no grupo Poronga, longe dos holofotes, coerente com o projeto do CPC, de multiplicar, capilarizar, criar vários focos de produção de cultura política e resistência no país.
Conhecemos João das Neves quando ele veio a Brasília apresentar a remontagem de Arena conta Zumbi, peça do Teatro de Arena, escrita no contexto de resistência ao golpe de 1964 e à ditadura militar e civil. Na versão de João das Neves o elenco era negro, formado por atores e atrizes de Belo Horizonte. O quilombo estava construído no palco, as paliçadas erguidas, como a demarcar que o tempo passou e não passou. Fomos com uma turma da Licenciatura em Educação do Campo da UnB, de maioria quilombola, do território dos Kalunga. Lá fizemos o convite a ele para que se apresentassem no quilombo, o maior do Brasil, com 254 mil hectares. Eles toparam prontamente. Mas depois de muito corrermos atrás com a produção da peça não conseguimos alavancar recursos suficientes para levar o trabalho ao quilombo. Naquele dia, João conversava conosco, na boca de cena, tecia os elos com o passado, do CPC aos dias de hoje, pautava de forma enérgica que é era um trabalhador do teatro, e portanto, precisava lutar pelas condições de trabalho e vida a partir de seu ofício.
João das Neves não parou de trabalhar até a morte. Esteve envolvido com oficinas de formação, com escolas de artes do MST e do Levante Popular da Juventude, transferindo sua experiência para as novas gerações, desfazendo os estigmas e estereótipos sobre as experiências de arte engajada do passado, que colaboraram para o desconhecimento daquelas experiências pela maioria da população brasileira. Que fiquemos com o exemplo de coerência de João das Neves, de Augusto Boal e tantos outros e outras daquela geração, que se empenharam até a morte na socialização dos meios de produção da linguagem teatral e da arte em geral, para que o povo possa utilizar o teatro e a arte como arma, e como queira, como expressão de um direito humano inalienável.

João das Neves presente, presente, presente!

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