O elenco foi composto pelo núcleo da Brigada Semeadores (MST-DF/E), com participação de atrizes do elenco do Coletivo TERRAemCENA, do campus de Planaltina da UnB, de estudantes do curso de Agroecologia do Instituto Federal de Brasília e de militantes do MST/MS e do MST-SE.
A peça teve uma versão gravada para rádio pela turma de Comunicação e Cultura de ensino médio do Iterra, a Semeadores fez algumas montagens da versão adaptada, no assentamento Gabriela Monteiro, no Instituto Federal de Brasília e no campus de Planaltina da UnB. E, na terça, fizemos o que pretendíamos desde que começamos a trabalhar com a peça, mostrá-la em cena, para a militância dos movimentos sociais do campo, quilombolas, indígenas, pescadores, que hoje dá continuidade à luta.
Por cerca de meia hora, os 5 mil militantes participantes do encontro assistiram em silêncio a montagem, concentrados no desdobramento do julgamento dos camponeses pelo conluio entre o Juiz e o Coronel Porfírio. Ao final, a plenária acolheu o grupo com uma bonita salva de palmas, vejam a foto. E, em seguida, Nelson Xavier deu belo depoimento sobre o engajamento dele e de seus companheiros, Augusto Boal, Vianinha, Guarnieri, Milton Gonçalves, Flávio Migliaccio, na década de 1960. Emocionado, em fala que comoveu a todas e todos que lhe escutavam, ele disse que sentiu que a sua vida foi útil, pelo significado que a peça tem até hoje, para tanta gente.
Depois, militantes da Cultura e Comunicação dos movimentos ali presentes, os estudantes da turma do curso de Artes que o MST tem com a UFPI, e o elenco da peça, tiveram conversa de mais de duas horas com Nelson, momento em que ele explicou com riqueza de detalhes como funcionava o Movimento de Cultura Popular (MCP) e o Centro Popular de Cultura (CPC), além a forma organizativa e dos embates internos no Teatro de Arena. Ele enfatizou que o golpe foi o marco de virada regressiva para boa parte daquela militância engajada, que depois teve que procurar um meio de sobreviver.
Enfim, há muito o que contar dessa conversa, e do que aprendemos com a montagem dessa peça, sobre a relação entre qualidade estética e tendência política que Walter Benjamin tanto falava, sobre a função do teatro de agitação e propaganda, tão injustamente renegado por décadas, e desde o trabalho de Iná Camargo Costa (A hora do teatro épico no Brasil/1996) devidamente recuperado para o debate sobre cultura e política de interesse da classe trabalhadora.
Por ser um trabalho coletivo, de longa data, naquele momento sentimos conosco a força de todas as pessoas que com ele se envolveram, desde a luta que deu origem a peça, em Jales, em 1959, passando pelos dramaturgos que escreveram o texto, pelos atores que o montaram, pelos camponeses que o demandaram em função da luta que faziam, pelos companheiros e companheiras da Brigada Nacional de Teatro do MST Patativa do Assaré e do Coletivo de Cultura, pela militância que trabalhou com a peça nos cursos, pelo apoio intelectual e agitador da companheira Iná Camargo Costa.
A peça foi apresentada de tarde, fato notado com surpresa pelo próprio Nelson Xavier. Não foi o momento supostamente reservado para o entretenimento, foi o momento do debate político, o momento da formação, sinal da maturidade com que as organizações têm encarado a dimensão formativa da produção cultural. Pela primeira vez contamos com todo o apoio político e financeiro da coordenação do evento, tivemos um aparato de microfonagem inédito, fundamental para a garantia da escuta de uma plenária de 5 mil pessoas.
Nossos agradecimentos.
Por fim, saímos todos desse momento com a certeza de que temos muito a aprender com o espírito combativo e solidário da geração que empenhou suas vidas na década de 1960 para lutar pela Revolução Brasileira. A disciplina teórica daqueles companheiros e companheiras, o espírito de auto-crítica, a disponibilidade para a transmissão da experiência são exemplos que aprendemos com Nelson Xavier, com Augusto Boal, com César Vieira, com Iná Camargo Costa, e com tantas e tantos outros companheiros com que tivemos contato nos 11 anos de jornada da Brigada Nacional de Teatro do MST Patativa do Assaré.
Fortes abraços!
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