Composição do Terra em Cena

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro, audiovisual e artes visuais que atuam em comunidades da reforma agrária, quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB, da UFSJ, da UFSC e da UFVMJ, da rede pública do DF, por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo da UnB e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como Programa de Extensão da UnB, com Projetos de Extensão articulados na Faculdade UnB de Planaltina (FUP) e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Reflexões de estudantes da LEdoC sobre a VII Mostra Terra em Cena e na Tela

O que vi, senti e aprendi: uma análise pessoal da VII Mostra Terra em Cena e na Tela 

Lara Monteiro Abreu

A VII Mostra Terra em Cena e na Tela aconteceu na Faculdade UnB Planaltina nos dias 26 à 29 de novembro de 2025, iniciando com o sarau artístico e seguindo de oficinas de muralismo, teatro, cerâmica e audiovisual, além de apresentações de peças, filmes e debates que contribuem no processo social e formativo dos estudantes da FUP. Eu, como discente no curso de Licenciatura em Educação do Campo e, também artista, considerei esse evento bastante produtivo no sentido de entender diferentes maneiras de como a arte pode ser política e contribuir para desenvolver pensamentos críticos na sociedade, e particularmente foi um momento motivador, que mexeu internamente com o corpo e com a minha mente, me inspirando a entrar ainda mais neste mundo artístico. 

Nesses dias, também fiquei responsável por algumas gravações do evento, devido a disciplina do professor Felipe Canova “Processo experimental em Audiovisual I”, em que faremos um documentário sobre alguns momentos e cenas da Mostra. Logo, pude observar todas as oficinas que aconteciam simultaneamente, realizar entrevistas, e gravar detalhes das cenas e das rodas de conversa que as peças geravam.

O evento foi iniciado com o sarau, que aconteceu a noite, com a coordenação do professor Paulo Henrique Vieira. Neste dia, fiquei responsável para auxiliar no som. E por eu ser artista, mais voltada para o âmbito musical, também apresentei algumas músicas autorais durante a noite. Foi um momento interessante, pois tenho apreço por organizar eventos culturais e movimentar a FUP.

O sarau começou com a Lavagem no prédio Paulo Freire, que é um momento de ritual de purificação misturando elementos do catolicismo com o candomblé, seguido de um cortejo aos sons de palmas, atabaques e cânticos de origem africana, até a entrada do Restaurante Universitário, onde aconteceria o restante do sarau. Por volta das 19h aconteceu a abertura da VII Mostra com a apresentação da peça “Cotidiano” do grupo Cenas Emendadas, com a direção da Bárbara Reis, que elaborou uma cena ainda em construção sobre a violência contra a mulher. O sarau seguiu após a peça, com um desfile de moda Afro-Raízes da Resistência, apresentando materiais desenvolvidos pelo estilista e calouro de Licenciatura em Educação do campo, Tainam Malta. Após o desfile, iniciaram as apresentações musicais e as recitações de poemas, seguindo assim até o encerramento da noite.

No dia seguinte a mostra iniciou com uma mística realizada por nós, estudantes da turma “Processo Experimental de Teatro I”, ministrada pelos professores Rafael Villas Bôas e Simone Menezes. Esse processo da construção e execução da mística foi bastante enriquecedor no ponto de vista de desenvolver alguma ideia de forma coletiva e em tão pouco tempo. Foram duas tardes para elaborar as ideias, ensaiar e no dia seguinte apresentar. No primeiro dia, pensamos nos lugares possíveis para realizar a mística, pois o clima estava chuvoso. A ideia inicial era realizar no teatro arena, tanto que nosso primeiro ensaio foi neste espaço, mas devido a chover bastante durante à noite, decidimos alterar para dentro do auditório Augusto Boal.

Eu gostei bastante da dinâmica de como a mística se construiu. O professor pediu para pegarmos um objeto em que te representasse de alguma forma, e a partir daí fomos conversando sobre esse objeto e o porquê a escolha dele. Foi um momento de trocas, de conversas, de interações que cada um dos itens escolhidos despertava nas pessoas. Logo, um pilão que representava a memória da história de infância da Maria, ainda é um objeto presente na comunidade da Cleuzirene, e foi muito utilizado pela família da Ana Rúbia para fazer paçoca. A Cabaça também foi outro objeto que trouxe várias histórias e interações, sobre seus diferentes usos e nomes em cada região. Foi um momento bem bonito e decidimos levar isso para a mística.

Outra ideia foi procurar algum jogo teatral que aprendemos em algumas das aulas dos semestres anteriores, que coubesse na abertura do evento. Ensaiamos brevemente o Homenagem a Magritte, jogos com bolas de tênis, até chegarmos à conclusão de iniciar a mística com o Jornal Mural, trazendo algumas notícias atuais.

No dia da apresentação da mística, tinha ficado bastante ansiosa até porque ia tocar uma música de minha autoria, descendo as escadas do auditório até chegar no palco, e por mais que eu ame me apresentar, fico muito insegura. Mas foi lindo todo o processo, desde o Jornal Mural, com pessoal interagindo, em seguida falando dos objetos que trouxeram para a VII Mostra que foi emocionante, e depois eu cantando minha música para todos no auditório, foi um momento especial que quero sempre lembrar com carinho. A mística pode ser realizada por vários motivos, tanto em forma de denúncia, ou relatos, memórias, podem ter poemas, músicas, diferentes sons, etc. ações que geram um debate para ser discutido na mesa de conversa. E a nossa foi como uma forma de atualizar o pessoal com as notícias e também se sentirem bem vindos à FUP com a apresentação do VII Mostra Terra em Cena e na Tela. 

Imagem 1: Ensaio da Mística no teatro arena

Imagem 2: Ensaio da mística no Auditório Augusto Boal

 

Imagem 3 e 4: Apresentação da mística no Augusto Boal

O dia seguiu com as oficinas espalhadas em diferentes lugares da universidade. A de teatro seguiu no auditório Augusto Boal, a de cerâmica na sala de artes, a de audiovisual no auditório 3 e a de muralismo no alojamento da universidade. Eu me inscrevi para a de muralismo, mas por estar na gravação do documentário, consegui participar um pouquinho das outras. A de teatro, quando cheguei, estava realizando várias atividades de corpo e jogos teatrais, alguns eu conhecia por já ter realizado em sala de aula pelo professor, mas outros foram novidade. A de cerâmica já é algo que está presente na FUP todas as quartas, logo, foi o que fiquei menos tempo pois já conheço o procedimento e é algo bastante relaxante de se fazer. Na de audiovisual, falaram sobre construção de documentário e foi algo interessante pois estava no processo de um. E ao final, a de Muralismo, que estava reconstruindo o mural desenhado pela turma 3 da LEdoC e que foi apagado recentemente devido a obra. Foi um momento muito bonito de reconstrução e reafirmação da importância que os murais têm em guardar memórias das turmas que já caminharam pelo curso.

O evento seguiu no período da tarde com a mesa sobre Agroecologia e Cultura, e um debate sobre a Conjuntura e Estratégias dos Movimentos Sociais. À noite, a segunda apresentação foi a peça “Toró”, do coletivo Fuzuê (UFSJ/MG) e para encerrar uma mostra audiovisual, com a exibição de alguns curtas produzidos pelo coletivo Terra em Cena.

No dia 28 pela manhã, foi apresentada a peça “Padrão” do Coletivo Encena Kalunga, de Cavalcante (GO). Essa peça foi inicialmente construída na disciplina Pedagogia do Teatro, ministrada pelos professores Rafael e Pedro Ribeiro, em que foi criada pelas estudantes Aparecida, Lucilene, Roseane e Thaís. As estudantes Nelma, Hiory e Brenda entraram na reprodução das cenas com as adaptações finais, que foi apresentada no auditório Augusto Boal. Ainda pela manhã, foi o momento de finalizar as oficinas que haviam iniciado no dia anterior.  No período da tarde, houve um debate sobre as linhas de pesquisa do Terra em Cena e ao final a apresentação da peça “Plataforma” do Cia Estudo de Cena (SP). Essa peça Plataforma me tocou bastante no sentido de trazer imagens de momentos de resistência dos trabalhadores relacionados com a atualidade. Fiquei vidrada do início ao fim com a atuação, com a construção das cenas e a sincronia que as atrizes estavam em todo momento. Foi bem interessante.

No sábado, o evento continuou pela manhã com a exposição de banners das escolas do campo do DF e uma mesa de abertura sobre “A escola do campo como centro popular de cultura”. Infelizmente não consegui participar dessa mesa, pois no mesmo horário aconteceu uma premiação de melhor trilha sonora no filme construídos pelos os alunos da escola que realizei o estágio, logo foi um momento especial na instituição e que não poderia perder. Mas, em seguida, voltei para a FUP e consegui assistir uma parte da peça “Aurora” de Cia Burlesca. Fiquei encantada com o trabalho da atriz Julie Wetzel, sozinha em cena ela consegue fazer tantos papéis diferentes e conseguir apresentar a educação como forma de emancipação e resistência contra a exclusão, e conectando a história de alfabetização em Cuba com a realidade brasileira. Foi uma peça incrível, que mexe com o espectador ou “espect ator” que ao invés de só assistir, ele age e reage sobre determinado tema.

No geral, participar da VII Mostra Terra em Cena e na Tela foi muito mais do que acompanhar quatro dias de apresentações, foi um momento de aprendizado intenso que seguirei levando nos dias afora. Foram momentos de imersão no teatro não como forma de espetáculo, mas como uma ferramenta política e pedagógica, em que faz compreender o papel da cultura na sociedade. Foram dias de trocas, de encontros, peças e atividades carregadas de crítica social colocando em pauta as contradições do sistema capitalista, e mostrando a educação emancipadora e a arte no lugar de resistência e de diálogo, atuando como um método de transformação social.


Imagem 5: Eu gravando a oficina de muralismo

 

imagem 6: Apresentação da peça “Plataforma” - Cia Estudo em Cena


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magem 7: Apresentação da peça “Aurora” - Cia Burlesca 

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