O
que vi, senti e aprendi: uma análise pessoal da VII Mostra Terra em Cena e na
Tela
Lara Monteiro Abreu
A VII Mostra
Terra em Cena e na Tela aconteceu na Faculdade UnB Planaltina nos dias 26 à 29
de novembro de 2025, iniciando com o sarau artístico e seguindo de oficinas de
muralismo, teatro, cerâmica e audiovisual, além de apresentações de peças,
filmes e debates que contribuem no processo social e formativo dos estudantes
da FUP. Eu, como discente no curso de Licenciatura em Educação do Campo e,
também artista, considerei esse evento bastante produtivo no sentido de
entender diferentes maneiras de como a arte pode ser política e contribuir para
desenvolver pensamentos críticos na sociedade, e particularmente foi um momento
motivador, que mexeu internamente com o corpo e com a minha mente, me
inspirando a entrar ainda mais neste mundo artístico.
Nesses dias,
também fiquei responsável por algumas gravações do evento, devido a disciplina
do professor Felipe Canova “Processo experimental em Audiovisual I”, em que
faremos um documentário sobre alguns momentos e cenas da Mostra. Logo, pude
observar todas as oficinas que aconteciam simultaneamente, realizar
entrevistas, e gravar detalhes das cenas e das rodas de conversa que as peças
geravam.
O evento foi
iniciado com o sarau, que aconteceu a noite, com a coordenação do professor
Paulo Henrique Vieira. Neste dia, fiquei responsável para auxiliar no som. E
por eu ser artista, mais voltada para o âmbito musical, também apresentei
algumas músicas autorais durante a noite. Foi um momento interessante, pois
tenho apreço por organizar eventos culturais e movimentar a FUP.
O sarau
começou com a Lavagem no prédio Paulo Freire, que é um momento de ritual de
purificação misturando elementos do catolicismo com o candomblé, seguido de um
cortejo aos sons de palmas, atabaques e cânticos de origem africana, até a
entrada do Restaurante Universitário, onde aconteceria o restante do sarau. Por
volta das 19h aconteceu a abertura da VII Mostra com a apresentação da peça
“Cotidiano” do grupo Cenas Emendadas, com a direção da Bárbara Reis, que
elaborou uma cena ainda em construção sobre a violência contra a mulher. O sarau
seguiu após a peça, com um desfile de moda Afro-Raízes da Resistência, apresentando
materiais desenvolvidos pelo estilista e calouro de Licenciatura em Educação do
campo, Tainam Malta. Após o desfile, iniciaram as apresentações musicais e as
recitações de poemas, seguindo assim até o encerramento da noite.
No dia
seguinte a mostra iniciou com uma mística realizada por nós, estudantes da
turma “Processo Experimental de Teatro I”, ministrada pelos professores Rafael
Villas Bôas e Simone Menezes. Esse processo da construção e execução da mística
foi bastante enriquecedor no ponto de vista de desenvolver alguma ideia de
forma coletiva e em tão pouco tempo. Foram duas tardes para elaborar as ideias,
ensaiar e no dia seguinte apresentar. No primeiro dia, pensamos nos lugares
possíveis para realizar a mística, pois o clima estava chuvoso. A ideia inicial
era realizar no teatro arena, tanto que nosso primeiro ensaio foi neste espaço,
mas devido a chover bastante durante à noite, decidimos alterar para dentro do
auditório Augusto Boal.
Eu gostei
bastante da dinâmica de como a mística se construiu. O professor pediu para
pegarmos um objeto em que te representasse de alguma forma, e a partir daí
fomos conversando sobre esse objeto e o porquê a escolha dele. Foi um momento
de trocas, de conversas, de interações que cada um dos itens escolhidos
despertava nas pessoas. Logo, um pilão que representava a memória da história
de infância da Maria, ainda é um objeto presente na comunidade da Cleuzirene, e
foi muito utilizado pela família da Ana Rúbia para fazer paçoca. A Cabaça
também foi outro objeto que trouxe várias histórias e interações, sobre seus
diferentes usos e nomes em cada região. Foi um momento bem bonito e decidimos
levar isso para a mística.
Outra ideia
foi procurar algum jogo teatral que aprendemos em algumas das aulas dos
semestres anteriores, que coubesse na abertura do evento. Ensaiamos brevemente
o Homenagem a Magritte, jogos com bolas de tênis, até chegarmos à conclusão de
iniciar a mística com o Jornal Mural, trazendo algumas notícias atuais.
No dia da apresentação da mística, tinha ficado bastante ansiosa até porque ia tocar uma música de minha autoria, descendo as escadas do auditório até chegar no palco, e por mais que eu ame me apresentar, fico muito insegura. Mas foi lindo todo o processo, desde o Jornal Mural, com pessoal interagindo, em seguida falando dos objetos que trouxeram para a VII Mostra que foi emocionante, e depois eu cantando minha música para todos no auditório, foi um momento especial que quero sempre lembrar com carinho. A mística pode ser realizada por vários motivos, tanto em forma de denúncia, ou relatos, memórias, podem ter poemas, músicas, diferentes sons, etc. ações que geram um debate para ser discutido na mesa de conversa. E a nossa foi como uma forma de atualizar o pessoal com as notícias e também se sentirem bem vindos à FUP com a apresentação do VII Mostra Terra em Cena e na Tela.
Imagem 1: Ensaio da Mística no teatro arena
Imagem 2: Ensaio da mística no Auditório Augusto Boal
Imagem 3 e 4: Apresentação da mística no Augusto Boal
O dia seguiu
com as oficinas espalhadas em diferentes lugares da universidade. A de teatro
seguiu no auditório Augusto Boal, a de cerâmica na sala de artes, a de
audiovisual no auditório 3 e a de muralismo no alojamento da universidade. Eu
me inscrevi para a de muralismo, mas por estar na gravação do documentário,
consegui participar um pouquinho das outras. A de teatro, quando cheguei,
estava realizando várias atividades de corpo e jogos teatrais, alguns eu
conhecia por já ter realizado em sala de aula pelo professor, mas outros foram
novidade. A de cerâmica já é algo que está presente na FUP todas as quartas,
logo, foi o que fiquei menos tempo pois já conheço o procedimento e é algo
bastante relaxante de se fazer. Na de audiovisual, falaram sobre construção de
documentário e foi algo interessante pois estava no processo de um. E ao final,
a de Muralismo, que estava reconstruindo o mural desenhado pela turma 3 da LEdoC
e que foi apagado recentemente devido a obra. Foi um momento muito bonito de
reconstrução e reafirmação da importância que os murais têm em guardar memórias
das turmas que já caminharam pelo curso.
O evento
seguiu no período da tarde com a mesa sobre Agroecologia e Cultura, e um debate
sobre a Conjuntura e Estratégias dos Movimentos Sociais. À noite, a segunda
apresentação foi a peça “Toró”, do coletivo Fuzuê (UFSJ/MG) e para encerrar uma
mostra audiovisual, com a exibição de alguns curtas produzidos pelo coletivo
Terra em Cena.
No dia 28 pela
manhã, foi apresentada a peça “Padrão” do Coletivo Encena Kalunga, de
Cavalcante (GO). Essa peça foi inicialmente construída na disciplina Pedagogia
do Teatro, ministrada pelos professores Rafael e Pedro Ribeiro, em que foi
criada pelas estudantes Aparecida, Lucilene, Roseane e Thaís. As estudantes
Nelma, Hiory e Brenda entraram na reprodução das cenas com as adaptações
finais, que foi apresentada no auditório Augusto Boal. Ainda pela manhã, foi o
momento de finalizar as oficinas que haviam iniciado no dia anterior. No período da tarde, houve um debate sobre as
linhas de pesquisa do Terra em Cena e ao final a apresentação da peça “Plataforma”
do Cia Estudo de Cena (SP). Essa peça Plataforma me tocou bastante no sentido
de trazer imagens de momentos de resistência dos trabalhadores relacionados com
a atualidade. Fiquei vidrada do início ao fim com a atuação, com a construção
das cenas e a sincronia que as atrizes estavam em todo momento. Foi bem
interessante.
No sábado, o
evento continuou pela manhã com a exposição de banners das escolas do campo do
DF e uma mesa de abertura sobre “A escola do campo como centro popular de
cultura”. Infelizmente não consegui participar dessa mesa, pois no mesmo
horário aconteceu uma premiação de melhor trilha sonora no filme construídos
pelos os alunos da escola que realizei o estágio, logo foi um momento especial
na instituição e que não poderia perder. Mas, em seguida, voltei para a FUP e
consegui assistir uma parte da peça “Aurora” de Cia Burlesca. Fiquei encantada
com o trabalho da atriz Julie Wetzel, sozinha em cena ela consegue fazer tantos
papéis diferentes e conseguir apresentar a educação como forma de emancipação e
resistência contra a exclusão, e conectando a história de alfabetização em Cuba
com a realidade brasileira. Foi uma peça incrível, que mexe com o espectador ou
“espect ator” que ao invés de só assistir, ele age e reage sobre determinado
tema.
No geral,
participar da VII Mostra Terra em Cena e na Tela foi muito mais do que
acompanhar quatro dias de apresentações, foi um momento de aprendizado intenso
que seguirei levando nos dias afora. Foram momentos de imersão no teatro não
como forma de espetáculo, mas como uma ferramenta política e pedagógica, em que
faz compreender o papel da cultura na sociedade. Foram dias de trocas, de
encontros, peças e atividades carregadas de crítica social colocando em pauta
as contradições do sistema capitalista, e mostrando a educação emancipadora e a
arte no lugar de resistência e de diálogo, atuando como um método de
transformação social.
imagem 6: Apresentação da peça “Plataforma” - Cia Estudo em
Cena
Nenhum comentário:
Postar um comentário