INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Protocolo sobre o Café com MST em 10 de junho de 2025

 Certa feita ouvi um dos companheiros da Rede Nuestra America, Douglas Estevam, que também é integrante da Brigada Nacional de Teatro do MST Patativa do Assaré, falar que a Mística para o MST não se restringe a um momento. É um termo que se aplica às formas de socialização que congregam os espaços, a cultura que se estabelece. Citou alguns exemplos: “Dizemos que um determinado assentamento tem uma mística assim, pela maneira como recebe as pessoas, como os espaços estão dispostos (...)”.

Nesse sentido a Mística seria um também um termo relacional. Além de uma ação, ao talvez, pelo conjunto dessas ações forma uma Mística que dá o tom das organizações.

Estou rememorando essa fala desde dia 10 de junho de 2025, em que o MST convidou a Universidade de Brasília (UnB) e o Instituto Federal de Brasília (IFB), parceiros na luta pela reforma agrária, para conhecer a nova sede do escritório nacional em Brasília.

Localizado no espaço central do Distrito Federal o escritório rompe com a ideia formal de um espaço frio, burocrático e, até mesmo, asséptico do ponto de vista estético. Este seria a ideia geral que me vem à mente quando penso em um escritório. O que conheci no tour pelo escritório do MST foram, além de salas de recepção, reuniões e projetos, um espaço que conta também com uma sala de convivência, mas não confunda com a lógica neoliberal em que a ideia de salas desse tipo para trabalhadores é recheada de jogos para lubridiar as horas de trabalho alienadas e aumentar a produtividade. O que vemos ali é um espaço que tanto possibilita um descanso para os/as trabalhadores/as que ali estão, como pode, por exemplo, receber os filhos/as destes trabalhadores/as, como foi o caso de ontem, considerando a Greve dos Professores que acontece, em paralelo, neste momento, nas escolas do Distrito Federal.

Não para por aí. O novo espaço também organizou uma cozinha e um refeitório. Nada mais coerente, penso eu. Um movimento social que luta pela soberania alimentar garante a seus/suas trabalhadores/as um alimento limpo de venenos e ultra processados. Para além disso, garantir a possibilidade da comensalidade é sem dúvida o primeiro passo para gente se organizar. Não à toa, fomos convidas/os para um... Café com o MST. A recepção que o movimento nos oferece é antes de tudo uma mesa farta, além de, claro, sorrisos e abraços.

O clima amistoso segue com a Mística, formalmente dita. Não causa estranhamento que quem puxa a cantoria com palmas e violão é um dos advogados do MST. A gravata não inibe o companheiro de cantar e tocar. E aqui preciso falar que eu, que venho do chão de escola pública, mesmo não sendo uma militante orgânica do Movimento já me sinto à vontade naquele espaço. Para mim era como se estivesse na minha escola e não em um escritório.

A companheira que coordenou a reunião não só nos brindou com sorrisos como declamou poesia no entremeio da explanação das pautas. Mas alerta: “O café não é à toa, nós estamos aqui para dividir tarefas também”. E em seguida alivia: “Mas nada que o sujeito coletivo não dê conta”. E a palavra corre aberta entre a plenária composta por dois ex-reitores, professores/as da UnB e IFB, militantes do Movimento, estudantes da Universidade, ADUnB e a atual reitora da UnB.

O que fica latente nas falas é que a articulação entre MST e UnB é uma construção longeva que gera frutos, inflexiona movimentos em direção à luta por justiça social e que pode incidir ainda mais, mesmo com a conjuntura desafiadora e que impõe a emergência da organização da classe trabalhadora, a partir de movimentos internacionalizados, como o da tarde de ontem.

 No plano de fundo das pautas objetivas, o que encontros como o de ontem coloca é a dimensão de outra cultura política, onde o trabalho e a alegria coexistem na medida em que as tarefas, por mais que sejam complexas, não são esvaziadas de sentido político e social. É a dimensão do trabalho não alienado que a Mística, no sentido mais integral, parece se fazer no escritório nacional do MST, no Distrito Federal.

 

Simone Rosa

12 de junho de 2025



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