A 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela aconteceu entre 26 e 29 de novembro de 2025 e integrou atividades de ensino, pesquisa e extensão.
A 7ª Mostra do Terra em Cena, para mim, estudante de Matemática, foi uma experiência diferente do que estou acostumada. Optei por pegar a matéria optativa para conhecer as outras áreas de habilitações do curso de Licenciatura em Educação do Campo (FUP/UnB) e vivenciar outros mundos, e obtive essas vivências principalmente por meio das peças teatrais do primeiro e penúltimo dia da 7ª Mostra.
A primeira peça foi apresentada no sarau de abertura da 7ª Mostra, com uma pauta fortíssima, de dar arrepios mesmo! A peça inicia contando a história de uma moça que há pouco tempo abriu o seu bar, em uma zona urbana, e tendo como ajuda só seu filho para manter o local.
Corta para uma cena do tecladista que trabalha nesse mesmo bar, chegando e interagindo com a dona, estabelecendo acordos. Depois chega um casal no ambiente, com interesse principal de só beber e socializar, até o momento em que a mulher quer levantar e dançar, já que havia bebido um pouco mais da conta; e, após isso, seu companheiro acha ruim a forma como ela dança e se expressa, acreditando que aquilo tudo era para seduzir o tecladista que ali está trabalhando.
Por fim, vemos a tragédia que um ciúme obsessivo causa a uma mulher. Trouxe essa peça como análise por abordar um tema central: violência contra mulheres ou feminicídio, em que mulheres no Brasil morrem ou são abusadas, tanto física quanto mentalmente, todos os dias e a qualquer momento, pelos seus parceiros ou familiares. A importância dessa peça ser apresentada em um ambiente escolar ou universitário como ferramenta de ensino e conscientização para a população é de extrema necessidade.
A segunda peça, que me encantei, também vem com um tema polêmico e necessário. A peça de Teatro Fórum “Padrão”, do grupo estreiante Encena Kalunga, de Cavalcante (GO), formado por estudantes quilombolas da LEdoC, que apresentou para a gente um retrato de uma escola militar tratando seus estudantes com diferença de classe e preconceito.
Vemos uma moça negra que sofre discriminação por conta do penteado do seu cabelo crespo, por parte da diretora da escola onde estuda. A reação da estudante foi de injustiça, raiva e choro, enquanto a plateia estava revoltadíssima com a postura da diretora e dos dois estudantes que apoiavam o comportamento da autoridade da escola.
A plateia interagiu muito com a peça, e houve até uma participação na cena final, como parte da dinâmica do Teatro Fórum, uma técnica do Teatro do Oprimido, com uma pessoa da plateia trazendo outra visão e forma de como ela reagiria no lugar da estudante que sofreu preconceito da diretora. Uma outra reação, com pulso mais firme, exigindo respeito da diretora e da estudante, porém com um ar de barraco, e, com isso, a plateia discordou dela, achando que ela poderia usar outro tom e outra abordagem para se defender. Porém, eu entendi que esse coletivo ainda está na construção dessa peça e, por isso, as novas ideias serão incorporadas.
Por fim, foram muito boas as ideias de tema, a criação e a construção das cenas e falas, todas bem claras, construtivas e didáticas, nos ensinando que nossos direitos estão garantidos por lei, porém, nem sempre elas serão suficientes para o combate à violência escolar e à violência contra nós, mulheres.
Fotos da autora.
O processo de construção e execução da mística
Luana de Menezes Bonfim
Construir
a mística foi uma experiência que me fez enxergar que o processo é tão
importante quanto o resultado. No começo, estávamos todos confusos, sem ideia
clara do que fazer. E, olhando agora, percebo que esse momento de incerteza foi
essencial: foi nele que aprendemos a confiar uns nos outros, a aceitar que o coletivo
não nasce pronto e que a construção compartilhada acontece justamente no meio
do caos, das dúvidas e das tentativas que dão errado antes de dar certo.
À
medida que fomos reunindo as ideias, percebi como cada detalhe tinha valor, até
as sugestões que pareciam pequenas demais, ou até meio sem sentido no começo,
acabavam abrindo caminhos novos. O professor nos apresentou técnicas e
possibilidades, mas o que realmente deu vida à mística foi a nossa capacidade
de transformar nossas próprias vivências em algo comum. Isso ficou ainda mais
claro quando cada um trouxe seu objeto, e o mais interessante é que a partir
dali todas iam falando sua história e o restante escutava com muita atenção, no
final percebi que criamos uma boa lembrança das nossas vidas. Foi naquele
espaço que eu entendi, de verdade, que cada pessoa traz um mundo dentro de si.
Ouvir
as histórias por trás de cada objeto foi como montar um quebra-cabeça humano:
cada peça era diferente, mas todas se completavam. De repente, aquilo deixou de
ser apenas um trabalho de sala e virou um espaço de troca, de reconhecimento e
até de cuidado. Descobri que, quando compartilhamos nossas memórias, estamos na
verdade oferecendo um pedaço da nossa identidade, e isso só acontece quando
existe confiança.
Os
jogos que fizemos, como o da bola, não foram só para “descontrair”; eles
ajudaram a criar uma sintonia que nem sempre percebemos conscientemente. A
mística começou a nascer ali, nos gestos espontâneos, nas risadas, nos
silêncios e na tentativa de encontrar um ritmo que fosse de todo mundo, não só
de um ou dois.
Nos
ensaios, especialmente no geral, percebi como cada ideia finalmente começava a
fazer sentido. Era como se a mística estivesse nos ensinando: que tudo tem seu
tempo, que nada se constrói sozinho e que, mesmo quando parece que não vai dar
certo, a união acaba encontrando um caminho. No auditório, vendo tudo se
encaixar, senti que a mística não era apenas uma atividade, ela era o reflexo
da nossa convivência, da nossa escuta e da nossa capacidade de criar juntos.
A
forma final ficou simples, mas carregada de significado: as notícias que lemos
no início, notícias atuais que estavam acontecendo no mundo, as histórias do
que aquele objeto representava para nós, a música no final da apresentação, a
pergunta que lançamos ao final de cada história… tudo isso fez com que a
mística deixasse de ser um ato e se tornasse uma experiência. Era como se
estivéssemos convidando as pessoas não só a assistirem, mas a refletirem com a
gente: “E você, o que trouxe para a 7ª mostra?”, no fundo, é uma pergunta sobre
presença, sobre sentido e sobre o que cada um carrega em sua própria vida.
Hoje,
olhando para trás, percebo que a mística me ensinou algo muito maior do que eu
imaginava. Ela me mostrou que o coletivo não é só juntar pessoas; é construir
um espaço onde cada um se sente parte, onde cada ideia tem lugar e onde cada
história importa. Aprendi que a verdadeira força de um grupo está na disposição
de ouvir, de acolher e de permitir que o outro também transforme a gente.
A sensação de ver tudo pronto foi incrível, mas o que ficou de verdade foi o aprendizado: a mística é um exercício de sensibilidade, de humanidade e de entendimento de que, quando caminhamos juntos, criamos algo que ninguém conseguiria construir sozinho. E talvez seja esse o maior significado de tudo.
Construção da Mística
Apresentando os objetos
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