INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Escolas do Campo periurbanas no DF: da produção teórica à práxis pedagógica

 No dia 30 de abril de 2024, aconteceu o Dia do Campo no Centro Educacional (CED) Vendinha, da Coordenação Regional de Ensino de Brazlândia (CRE/Braz). “Os Desafios da escola do campo em perímetro periurbano” foi o tema do encontro que reuniu em torno de 50 pessoas entre professores/as, servidores da escola e coordenadores intermediários da CRE/Braz.

 A supervisora da escola, Ana Paula Campos, integrou a primeira turma do Programa Escola da Terra do Distrito Federal. Este Programa está atualmente com a sua terceira turma de formação, mantendo um vínculo perene entre a Licenciatura em Educação do Campo da Universidade de Brasília e as Escolas do Campo da Secretaria de Educação do Distrito Federal.

Ana Paula relata que a escolha do tema para o Dia do Campo de 2024 se deu em diálogo com o artigo de conclusão de curso da primeira turma do Escola da Terra defendido em 2022 pelas professoras Beatriz Pereira, Julia Brito e Simone Rosa; com orientação do professor Felipe Canova (UnB), e co-orientação de Edinéia Alves (SEEDF). Na banca de avaliação do trabalho estiveram os professores Rafael Villas Bôas (UnB) e Cleide Souza (SEEDF).

O artigo de título “Escolas do campo periurbanas : contradições e movimentos potenciais de organização da classe trabalhadora do Distrito Federal” está disponível no endereço: https://bdm.unb.br/handle/10483/34483.

Em resumo, o artigo lança um olhar sobre escolas que encontram-se em contexto de campo periurbano no Distrito Federal. Apontam-se questões que impulsionaram tal fenômeno e as contradições presentes nesse espaço. Além disso, são analisadas experiências que articulam a relação campo e periferia com vistas na organização da classe trabalhadora e na potencialização da função social da escola. No artigo, conclui-se que o território das escolas do campo periurbanas representa uma potencialidade dilatada na construção de uma solidariedade de classe entre campo e cidade por meio da compreensão dialética das contradições internas e externas presentes nesses espaços.

O convite do CED Vendinha trouxe a possibilidade de diálogo entre teoria e práxis. A escola é composta por estudantes do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental vindos do Assentamento Vitória, que tem características periurbanas, das chácaras próximas da escola e, principalmente, das chácaras e bairros do município de Monte Alto-GO, uma vez que a escola está na fronteira do Distrito Federal com o Goiás.

Esse ponto já traz em si uma série de peculiaridades para realidade dessa escola, tal como a impossibilidade dos estudantes que não residem no Distrito Federal usufruírem do transporte escolar oferecido pela secretaria de educação. Questão amplamente pautada durante a primeira edição do Escola da Terra.

A escola tem avançado na construção do seu Inventário da Realidade Escolar, neste processo outras contradições emergiram, tais como o perigo enfrentando pelos estudantes ao atravessarem a BR 080 para retornar à suas residências. Essa, que é uma das vias de maior tráfego de caminhões do DF, não conta com nenhuma sinalização de perímetro escolar, tão pouco uma faixa de pedestre. A escola procurou soluções junto ao DER, mas não teve sua solicitação atendida. Tamanha é a insegurança que um ex-estudante chegou a ser atropelado na saída da escola e veio a óbito.

As professoras fizeram a experiência de filmar esse momento de travessia para composição do inventário.

Outra professora, moradora do município de Monte Alto, chama a atenção para o problema do aterro sanitário existente em sua comunidade, que em função do manejo inadequado provoca desconforto aos moradores além das implicações ambientais, considerando que a área é de destinação rural.

As observações do corpo docente da escola entraram em diálogo com as questões abertas pelo artigo, mostrando os desafios e peculiaridades que escolas do campo periurbanas enfrentam.

Por fim, colocou-se a seguinte questão: o Dia do Campo é um espaço de apreciação, socialização e aprofundamento nos debates e investigações da realidade, mas o que fazer a partir daí? Sem dúvida desvelar camadas da realidade já é em si um grande saldo do processo de práxis pedagógica. Mas como ir além? Como intervir?

A constatação de que existe uma limite na atuação da escola por diversos motivos, tanto pela sobrecarga de trabalho, quanto pela capacidade de pressão limitada, é ponto comum. A saída encontrada está no fortalecimento da relação escola e comunidade e a tática cabível para esse movimento é a pedagogia da alternância expressa pelo tempo escola e tempo comunidade.

A pedagogia da alternância, bem como o Dia do Campo, são garantidos pela portaria que institui a Política em Educação do Campo no Distrito Federal. Contudo, isso não garante que a mesma seja implementada. Os limites burocráticos, a dificuldade de compreensão das especificidades da Educação do Campo frente às grandes demandas da secretaria de educação fazem com que ainda não se tenha notícia de uma experiência robusta em alternância na educação básica do DF. Vale ressaltar, por fim, que muitas dessas dificuldades são convergentes ao que a LEDOC enfrenta no âmbito do ensino superior.

Simone Rosa





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