No ano que o grupo Vozes do Sertão Lutando por Transformação (VSLT), de Cavalcante, faz 10 anos de atuação, também retoma as atividades após o período de isolamento causado pela pandemia da Covid-19. O grupo acumula uma vasta experiência de apresentações e debates com o espetáculo autoral que debate o avanço da mineração no território: “Se há tantas riquezas porque somos tão pobres?”.
Após um período de pausa, recomeçar é sempre uma empreitada que demanda olhar de forma crítica para o caminho percorrido e fazer escolhas de novos rumos que se deseja seguir. O grupo realizou avaliação minuciosa dos trabalhos anteriores e vinha realizando novas leituras. Ana Leda, que integra o grupo, contribui de forma expressiva com sua pesquisa em teatro negro. E levou o texto “Sortilégio”, de Abdias do Nascimento, para o grupo ler e debater.
Neste ano, no mês de novembro, o coletivo Terra em Cena irá realizar a V Mostra Terra em Cena e na Tela. Atividade que reune a rede de coletivos de teatro e audiovisual políticos e populares para debater sobre suas produções. Desta forma, a Mostra mobiliza coletivos e educadoras(es) a se prepararem para novembro trocando experiências entre si. Tornando a Mostra mais que uma atividade pontual, e sim um momento de culminância de encontros de relações que já veem se estabelecendo ao longo de alguns anos.
Nos dias 6 e 7 de setembro, o grupo VSLT recebe Julie Wetzel (Cia Burlesca/ Terra em Cena/ ETPVP-DF/ LATERA) para trocar experiências e refletir sobre os próximos passos do grupo. No primeiro dia de atividade foi impressionante perceber que o VSLT já assistiu a maior parte dos espetáculos da Cia Burlesca, assim como os dois grupos já tiveram diversas experiências em atividades formativas. Isto demonstra a capacidade dos grupos em se manterem em contato e troca para amadurecimento em conjunto pela rede da ETPVP-DF.
Os dez anos de atuação do Coletivo contribui para um alinhamento interno em relação ao desejo de retornarem a dinâmica de apresentações dentro do território quilombola de Cavalcante. Mantendo a tradição do teatro político em informar, formar e organizar o povo. Os temas que precisam ser debatidos em âmbito comunitário a partir da cena teatral já estavam nítidos para o grupo: Mineração, o programa estadual para educação “Goiás Tech”, a demarcação de terras, o turismo predatório, o racismo e o feminismo.
Com jogos teatrais e exercícios de construção de cenas, o grupo conseguiu organizar diversos materiais cênicos em pouco tempo. Um trabalho possível para artistas militantes que estão em constante reflexão e debate sobre as estruturas que os aprisionam e as possíveis dinâmicas que possibilitam a construção de um mundo mais justo. A capacidade que o grupo VSLT tem em contribuir com espaços formativos com a ferramenta teatral de cunho crítico e propositivo é nítida e estimulante. A avaliação geral se alicerça na potencialidade de trocas entre os coletivos para construção de um caminho comum, coletivo e emancipatório. Fazendo entender que apenas desta forma será possível combater as estruturas do capital que avançam para a classe trabalhadora, do campo e da cidade.
E em poucos dias, agora em novembro, diversos coletivos se reunirão na V Mostra Terra em Cena e na Tela que ocorrerá na FUP/UnB e no território quilombola de Cavalcante para debater sobre assuntos da realidade a partir das apresentações teatrais e filmes.
Julie Wetzel
Nenhum comentário:
Postar um comentário