Um dos desafios impostos pela pandemia da Covid-19, somada aos trágicos quatro anos de governo bolsonarista, é retomar de forma coesa, permanente e articulada o trabalho coletivo dos grupos de teatro: a rotina de ensaios, de encontros para estudo, de apresentações, de participação em eventos de formação dos movimentos e sindicatos e atuação nas lutas sociais.
O Coletivo Terra em Cena, em ação conjunta com a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF está tentando refazer os elos da rede de produção e circulação dos grupos, e com esse intuito deve realizar, ainda neste ano, a V Mostra Terra em Cena e na Tela.
No dia 05 de agosto de 2023 realizamos uma oficina na escola municipal Tia Adesuíta, na comunidade quilombola Kalunga de Diadema, em Teresina de Goiás. Dela participaram estudantes da Licenciatura em Educação do Campo, adolescentes e crianças da comunidade e da vizinha comunidade “Ema” e professoras egressas da LEdoC que atualmente lecionam nas escolas da região.
A produção da oficina foi realizada por Núbia, bolsista do Terra em Cena pelo projeto “Formação, intercâmbio e circulação em teatro e audiovisual na educação do campo: rumo à V Mostra Terra em Cena e na Tela”, apoiado pelo Decanato de Extensão da UnB. Contamos com o forte apoio da diretora da Escola, Maria Lúcia, egressa da turma quatro da LEdoC “Panteras Negras”. E contamos também com a participação, na coordenação da oficina, de dois integrantes do grupo de teatro de Cavalcante “Vozes do Sertão Lutando por transformação (VSLT)”, Ana Leda e Luan, que também está retomando os encontros e ensaios da peça “Se há tanta riqueza porque somos pobres?”, sobre o impacto da exploração empresarial da mineração no território Kalunga e região.
O salto de uma oficina para a criação de um grupo é um processo que depende da superação de muitos obstáculos: a dificuldade de encontro das pessoas interessadas em participar do grupo, dada as grandes distâncias a vencer para ir aos ensaios; o êxodo rural que faz com que a juventude que está no ensino médio procure oportunidades de estudo e trabalho nas cidades, o que desmobiliza com frequência os elencos; a conquista do apoio da comunidade, das associações e do poder público para que o grupo consiga o apoio logístico de transporte, alimentação e local para ensaio e guarda dos adereços de cena, figurinos e instrumentos do grupo; o apoio constante de integrantes de outros grupos e de professores, no processo de construção das peças; e a agenda de circulação do grupo com as peças do repertório que o grupo construir.
Nesse aspecto, vale atentarmos para as estratégias de sobrevivência dos dois grupos de teatro quilombolas Kalunga ligados ao Terra em Cena há mais de dez anos, o Arte Kalunga Matec do Engenho II e o VSLT. Os grupos não têm a cena, o palco, as peças como único fim de suas razões de existência, são espaços de encontro, trocas, articulações, recebem outros grupos, fazem formação, atuam nas atividades do calendário de festas e eventos culturais e políticos da cidade e do quilombo.
Professor da LEdoC–UnB e coordenador do Terra em Cena
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