INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A Escola de Teatro Politico de Buenos Aires: território de resistência popular


Apesar do processo de gentrificação do bairro Palermo, em Buenos Aires (Argentina), lá persiste um espaço de dinamização da cultura política, do direito à alimentação e da economia autogestionária de trabalhadores/as. Neste espaço, pertencente ao Estado,   conquistado pela vizinhança para a realização das assembleias populares em 2001 e mantido pela luta do Movimento Popular La Dignidad, se constituiu um território muito instigante de resistência popular pela via da arte: a Escola de Teatro Político de Buenos Aires, integrada ao Teatro Popular La Otra Cosa. 
A escola nasceu há 4 anos e desde então segue forte,  gerida por meio de assembleias gerais nas quais tomam parte estudantes, professores/as e graduadas/os, alguns dos quais são  militantes de La Dignidad. O desafio de tal instância de decisão é levar a cabo, no cotidiano da Escola, um método e uma concepção de trabalho capaz de articular arte e política no processo de luta e de emancipação dos/as trabalhadores. 
Os estudantes da Escola são jovens e adultos provenientes de movimentos populares, universidades, trabalhadores autônomos e educadores de escolas públicas, os quais semanalmente se reúnem, durante dois anos,  para refletir e vivenciar o trabalho cultural com teatro, alternativo ao da indústria cultural.
Em seu currículo, a formação da Escola articula a dimensão estética à ética, colocando em realce a ideia de que o componente  político emancipatório não pode se separar da(s) forma(s) que a ele corresponda(m).  Nesse sentido, o percurso formativo proposto passa por uma diversidade de disciplinas e atividades. 
1o ano: aulas de Teatro do Oprimido, Teatro épico de Bertolt Brecht, História do teatro político-disciplinas fechadas para estudantes. Clown, Seminário de Atuação e Canto Comunitário-aberto a toda a comunidade e demais alunos que não os do 1o ano.
2o ano: teatro do oprimido (aprofundamento - teoria e prática de coringagem), educação popular, montagem (síntese do que se aprende em outras disciplinas é feita nesta disciplina). 
Transversal às duas turmas se desenvolve a disciplina de teatro comunitário, realizada na Praça do Bairro Rivadavia, (“Bajo Flores”) com a participação de moradoras da comunidade boliviana, bem como as mostras teatrais da Escola. 

Além disso, são desenvolvidas atividades de formação em marchas e atos públicos em defesa dos direitos humanos.
A cobertura dos custos da escola é realizada mediante diferentes e conjugadas estratégias. Na primeira assembleia deste foi pautado que os/as estudantes pagassem uma contribuição mensal de 500 pesos argentinos, mas a decisão final foi que  só pagam aqueles que possuem condições econômicas favoráveis. Neste contexto, se nota um empenho de toda a comunidade da escola para gerar outras fontes de ingresso, como por exemplo, preparar e vender alimentos na cantina do teatro durante as mostras e festivais.
É importante assinalar que os professores da Escola atuam voluntariamente, impulsionados pelo seu compromisso com o teatro e militância. Estudantes que se formaram na primeira turma da escola hoje integram a equipe docente, formando duplas pedagógicas junto com professores mais experientes.
No início de novembro os/as companheiros/as da Escola de Teatro Politico de Buenos Aires acolheram uma das participantes do Terra em Cena/Cenas Camponesas, para com ela compartilhar no que consiste  a experiência  da Escola, que, assim como o programa de extensão brasileiro, também integra a rede Nuestra América. Por meio dos diálogos e vivências estabelecidos na ocasião, evidenciou-se a necessidade de avançarmos no processo de um intercâmbio da Rede Nuestra América, inclusive para fortalecer o horizonte de sentido e consciência possibilitado pelo teatro político, tão necessário para fazer frente ao refluxo da democracia na América Latina e destacadamente no Brasil. 

Kelci Anne Pereira – Professora da UFPI Campus Bom Jesus

Fotos: 

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