INTEGRANTES

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

A experiência do MST com Teatro do Oprimido Fala para 21ª Conferência Pedagogia do Teatro do Oprimido, Chicago, 11 a 15 de junho 2015.



Meu nome é Carla Loop, sou militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, no Brasil. Atuo na coordenação nacional do Coletivo de Cultura do MST. Ainda não sei falar inglês. Mas quero aprender. Para dizer por que aprender, preciso dialogar com vocês em português. Com licença.

Para que a luta concreta por justiça social avance radicalmente, não podemos ter fronteiras.

Desde o Brasil, o MST completa 30 anos de história, em que, a luta pela terra ainda não está superada, a luta pela reforma agrária ainda não está superada e, enquanto a propriedade privada prevalecer é preciso lutar por transformação social.

Temos mais de 150 mil famílias acampadas, ainda em barracos de lona, em todas as regiões do Brasil. E já conquistamos terra para mais de 350 mil famílias.

Temos 20 mil escolas no campo, cerca de 100 cooperativas organizando o sistema produtivo, cooperado e agroecológico.

Trabalhamos com cerca de 1,5 milhões de pessoas em 23 estados do país e na capital. São mulheres e homens capazes de seguir resistindo e lutando para fazer realidade dos sonhos.

Com esses objetivos, nos tornamos perigosos aos patrões chefes supremos. Porque a luta educa, e ajuda tomar consciência de que há pautas mais amplas, estruturantes para os trabalhadores efetivarem.

Como o direito a educação pública, saúde, comunicação, agroecologia e, a cultura, e dentro dela a arte e todas as suas linguagens, como o teatro, por exemplo.

O contato do MST com o teatro do oprimido cumpre com um papel fundamental: desenvolver a nossa capacidade, de construir, coletivamente, o nosso próprio ponto de vista sobre as formas que nós queremos construir e, não apenas reproduzir, aquilo que outros, sobre os seus pontos de vista, nos dizem o que fazer.

Ou seja, sem a posse por parte dos trabalhadores dos meios de produção e representação da realidade, não há justiça social.

Esse legado, aprendemos com Augusto Boal. Numa parceria de trabalho Boal se dispôs a fazer teatro com o MST e não para o MST. E, Boal nos provou que não seria suficiente apenas trazer peças para militantes ensaiarem. Era necessário aprender o método e a técnica. E nos termos da educação popular, se propôs a dar forma teatral aos problemas do Movimento, transferindo técnicas para que elas fossem usadas de acordo com as demandas e interesses do MST.

Junto com Boal e uma equipe do Centro de Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro, realizamos um processo de formação em teatro com militantes do MST, que durou cerca de 2 anos. E, ajudou formar a Brigada Nacional de Teatro do MST. Que assumiu a missão de multiplicar os conhecimentos do Teatro do Oprimido pelos campos de todas as regiões do país. Eu conheci o teatro do oprimido nesse trabalho de multiplicação.

Desenvolvemos muitas experiências. Sem negar que temos limites, elas foram desde a realização de oficinas e seminários, leituras dramáticas e encenações. Organização de grupos teatrais, temos trabalhos em escolas do campo e em acampamentos, principalmente com grupos de jovens. Estudo de peças e atividades de formação política de militantes. Atividades para formação de educadores e trabalhos com crianças nas cirandas infantis.

Até colocar em pauta discussões difíceis para um Movimento camponês, como a participação efetiva das mulheres nas lutas e na organização do MST, a inserção da juventude nas tomadas de decisão do Movimento, a elevação cultural dos camponeses, as relações com outros setores da sociedade, campo e a cidade. E a percepção de que isso tudo se constrói cotidianamente.

Os trabalhos passam por jogos teatrais, exercícios e métodos específicos, com uma sequencia que compõem o Teatro Imagem e o método do Teatro Fórum.

No trabalho com teatro do oprimido tivemos acesso a obras teatrais relacionadas à abolição da escravatura e organização da república, revolução verde e ditadura militar, em que a questão agrária ocupou a cena teatral brasileira, (entre 1955 – 1965).

Os estudos dessas obras nos remeteram a pensar o teatro como um instrumento de formação política e organização popular. Não só um instrumento de difusão de ideologia, mas um instrumento que cumpre um papel de organizador coletivo.

Desta maneira, o teatro do oprimido não pode ser idealizado, ele não faz milagres. Ele é uma peça/um parafuso da engrenagem de uma luta política, e também, às vezes, a própria luta política.

É o caso de duas experiências brasileira que buscavam articular de forma orgânica as esferas da Cultura e da Política: o Movimento de Cultura Popular (MCP), que existiu de 1959 a 1964, e o Centro Popular de Cultura (CPC), de 1961 a 1964. Ali, setores da sociedade atuaram engajados no enfrentamento das contradições da sociedade brasileira, para ir ao encontro de novas demandas ensejadas pelas lutas populares do período. Mas a ditadura militar empresarial abortou essa possibilidade.

Portanto, herdamos um legado histórico de movimentos culturais e políticos. Que atuaram para que os meios de produção das diversas linguagens artísticas estivessem nas mãos dos trabalhadores.

Se quisermos ativar o sentido de força política formativa e de intervenção na realidade é necessário que retiremos da caixa de embalagem da forma espetáculo e mercadoria o teatro do oprimido.

A experiência vivida pelo MST, com tantos limites e desafios, aponta que está em jogo nada menos que a disputa pelas formas hegemônicas de representação da realidade, pois reconhecemos o caráter estratégico do combate também nessa trincheira.





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