INTEGRANTES
O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro e audiovisual que atuam em comunidades da reforma agrária e quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB e da UFPI, e da rede pública do DF, por estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da UnB e da UFPI/Campus de Bom Jesus e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como programa de extensão da UnB, com projetos de extensão articulados na UnB e na UFPI, e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
Registro do trabalho desenvolvido na disciplina Arte e Sociedade 1 – Teatro com a metodologia do Teatro do Oprimido
Universidade
de Brasília-UNB
Campus de
Planaltina- FUP
Curso de
Licenciatura em Educação do Campo- LEDOC
Turma:
Chico Mendes (6)
Professor:
Rafael Litvin Villas Bôas
2º
semestre de 2014
Registro do trabalho desenvolvido
na disciplina
Arte e Sociedade 1 – Teatro
com a metodologia do Teatro do
Oprimido
Sumário:
1) Apresentação
do trabalho desenvolvido
2) Texto
das cenas de Teatro Fórum desenvolvidas pelos grupos
3)
Protocolos elaborados durante o trabalho da disciplina:
3.1 Chegamos até aqui. E agora?
(Rafael Villas Bôas)
3.2 As aulas de teatro na Ledoc.
(Edinéia Gonçalves)
3.3 Funções do trabalho com teatro na Ledoc. (Maria Lucia Gudinho)
3.4 O teatro e seus papéis. (Emerson
Nunes)
3.5 Mulheres oprimidas. (Tállyta)
3.6
Sobre as funções do ensino de teatro. (Elizângela Santana dos Santos)
4)
Tarefas encaminhadas para próximo Tempo Comunidade
1)
Apresentação
do trabalho desenvolvido
A
turma de Linguagens da sexta turma da Ledoc da UnB foi constituída por quinze
pessoas, sendo quatorze mulheres e um homem. O tamanho da turma e a maioria
feminina conferiu características específicas ao grupo, a saber:
-
o
desenvolvimento de um vínculo de confiança mais forte, sobretudo, por conta da
decisão de que trabalharíamos com a construção de cenas com o tema do patriarcado
e do machismo, com a intenção de apresentá-las durante o seminário Conexões 4,
que debateria a temática “Feminismo, Campesinato e Luta de Classes”;
-
o
desenvolvimento de sequências de exercícios com mais tempo destinado para a
explicação da técnica, da didática, e da relação entre forma cênica e forma
social das situações de exploração e opressão;
- a ênfase para a dimensão da
apropriação dos meios de produção da linguagem teatral, visando que as
estudantes se sintam seguras para iniciar o trabalho com teatro no próximo
Tempo Comunidade, se envolvendo com grupos teatrais já existentes ou
desenvolvendo experiências que possam culminar na formação de grupos.
Como
o foco temático central - a crítica ao patriarcado e ao machismo, e a ênfase nas
condições difíceis de permanência das mulheres na Licenciatura em Educação do
Campo, sobretudo, por conta do regime de alternância - foi acertado desde o início com a turma, e
havia grande interesse das quatorze estudantes em conhecer mais do tema que
afeta diretamente a vida quotidiana delas, o trabalho de socialização de
técnicas, métodos, exercícios, jogos, transcorreu de forma sempre articulada
com os aspectos da ordem do conteúdo.
No
limite, o grupo tinha uma razão objetiva para se apropriar dos conhecimentos da
linguagem teatral, havia uma necessidade, e a percepção clara de que a
apropriação dos métodos do Teatro do Oprimido poderia cumprir uma função útil
para a vida daquelas estudantes, seja na esfera da vida comunitária, seja
municiando-as para o trabalho didático como professoras.
A questão da eficácia política do
trabalho, e da eficácia estética, esteve durante todo o tempo em pauta. Por
isso, gerou grande debate no momento da construção dos primeiros modelos de
cena, uma proposta de estrutura de agitação e propaganda, claramente
influenciada pela estética das místicas, em que as mulheres ficavam em fileira
horizontal de costas para o público, e uma a uma, se viraram e davam um
depoimento sobre sua condição de existência enquanto mulheres, trabalhadoras
rurais estudantes da UnB, mães, esposas, negras buscando afirmação política e
intelectual, etc. O conteúdo se fazia forte e legítimo, porém, carecia do
trabalho formal, que fosse além da chave do depoimento em primeira pessoa. O
material carecia de trabalho estético.
Decidimos
trabalhar o texto de cada intervenção, mas infelizmente, o passo adiante para a
dramaturgia não foi adiante. Os textos não foram enviados em tempo, sob
alegação de sobrecarga de tarefas na etapa. Ficou a percepção do impasse: seria
necessário aprofundar os conhecimentos técnicos da carpintaria teatral para que
uma boa idéia pudesse se transformar em forma cênica eficaz, no sentido de
comunicação do que queriam transmitir ao público.
A
outra cena montada foi uma estrutura de peça de Teatro Fórum, com dois núcleos
de personagens. Uma estudante da Ledoc retornando para sua casa após uma etapa
de Tempo Universidade, sendo recebida pelo marido e filha, de forma ambígua: o
marido se auto-elogiando o tempo todo por ser compreensivo, e “deixar” a mulher
estudar, mas em troca, exigindo dela o cumprimento de todas as tarefas
“deixadas para trás”, desde a cozinha, até as supostas obrigações sexuais. Em
meio aos descortinamento da dinâmica de tripla ou mais jornadas a que as mulheres
estudantes da Ledoc estão submetidas, a estudante informa ao marido que vai até a casa da vizinha para
informa-la que ela passou no vestibular para a próxima turma da Ledoc.
O
marido da mulher que recebe a notícia da aprovação se coloca veementemente contrário
à ida da esposa para a universidade, com toda ordem de argumentos machistas. A
cena encerrava aí, e o Fórum foi realizado numa noite cultural durante o
seminário Conexões 4, em um espaço
aberto, ao lado dos Centros Acadêmicos da FUP, para um público de mais de 150
pessoas.
O
elenco desempenhou de forma eficaz seu papel, inclusive durante as
intervenções, que tentaram lidar com o problema pelo enfrentamento direto da
mulher com o marido. Os homens da plateia não entraram em cena. Algumas
palestrantes do seminário, dirigentes de movimentos sociais, deram suas
opiniões comentando as cenas, inclusive, sugerindo o argumento da Lei Maria da
Penha, como forma de auto-defesa feminina. Ninguém que entrou buscou uma forma
coletiva de resolução do problema, acionando, por exemplo, as demais mulheres
do assentamento.
Na avaliação do Teatro Fórum, foi
ressaltado pelo grupo a compreensão da potencia da técnica para ampliar o
debate sobre determinados temas com a comunidade ou a escola, e os limites que
determinados espaços podem oferecer ao desenvolvimento do debate formativo
proporcionado pelo Teatro Fórum. O momento da apresentação numa noite cultural,
com o teatro precedendo o coquetel, a música e a dança, foi avaliado como não
sendo o mais adequado para que a discussão sobre as táticas e as peculiaridades
do problema sejam potencializadas. O risco de que a plenária se comporte como
um público tradicional de teatro, buscando previamente se divertir com as
intervenções cênicas e as improvisações no momento do Teatro Fórum é maior. Se
o curinga e o elenco não souberem conter essa tendência à transformação do
debate em um jogo, a avaliação das performances interpretativas passa a ser o
critério que define a relação do público com as intervenções, e não o debate
sobre táticas para enfrentar o problema, em que a cena é uma mediação do
problema com a realidade.
Ao final da disciplina, após um
processo de treinamento a partir da construção de sequências de exercícios, e
de debate sobre o ensino das técnicas, decidimos que um dos grupos construiria
mais um modelo de cena, para que tentássemos fazer o Fórum com outra
metodologia.
Estávamos
há uma semana do primeiro turno das eleições para presidente da República,
governadores, senadores e deputados, e a cena construída tratou do tema do
poder, a partir de uma cobrança de uma promessa de campanha não cumprida, por
uma prefeita eleita, para uma escola do município.
No
momento do Fórum, após as perguntas básicas da curinga para iniciar a discussão
com o público, dividimos as pessoas em
grupos, para que elas pudessem debater o problema e formular coletivamente uma
tática de intervenção para tentar resolver o problema, ou quebrar as condições
de exploração e opressão contidas no modelo cênico.
O
que pudemos notar é que o problema é debatido com mais intensidade, e que as
intervenções tendem a se tornar processuais, e a contar com a força coletiva da
comunidade, no caso as famílias que tem os filhos nas escolas, e os
professores. A expectativa no momento do Fórum não recai com tanta intensidade
sobre o desempenho das pessoas que entram em cena, mas reside na observação do
método de intervenção elaborado e implementado pelos grupos.
A
expectativa projetada com essa forma de desenvolvimento do Teatro Fórum é que,
comparativamente, fique evidente as condições que submetem a dinâmica do debate
político por meio do teatro às exigências apaziguadoras da lógica do
espetáculo. Se compreendermos quais aspectos da lógica da Indústria Cultural
condicionam o Teatro Fórum à dinâmica de uma espécie de “jogo sério” poderemos
superar os limites determinados pelas condicionantes objetivas, e criar
espaços de formação política estética
mais eficazes.
Encerramos a primeira disciplina de
teatro com boa expectativa para as experiências que poderão ser desenvolvidas
no próximo Tempo Comunidade, com o compromisso de realização de estudos e
experiências nas comunidades e escolas, para que o retorno para a segunda e
última disciplina que terão no curso seja um momento de aperfeiçoamento
complementar do que foi aprendido, e de aprofundamento dos conhecimentos
teóricos, metodológicos, e do legado estético da experiência do Teatro
Político.
Brasília, 06 de outubro de 2013.
2)
Texto das cenas de Teatro Fórum desenvolvidas pelos grupos
Modelo de
cena de Teatro Fórum com o tema: Corrupção na Política
Educandas:
Elizângela, Patricia, Nilva, Tállyta e Dinair.
Personagens:
1-Secretaria:
Ângela
2-Deputada:
Tállyta (Carmem)
3-Responsável
pela escola: Patricia (Vera) vice- diretora, Nilva (Maria) diretora.
4-
Coringa: Dinair
Carmem no seu escritório ostentando riqueza, falando
ao celular com uma amiga, do carro do ano que ela comprou com a verba da
prefeitura. Marca uma viagem para o exterior utilizando também a verba da
prefeitura. Pela conversa fica evidente a postura de apropriação do recurso
público para despesas privadas. Enquanto isso entram na recepção do escritório
a diretora e a vice, e vão em direção à mesa da secretaria.
Maria – Oi
bom dia, a senhora Carmem está?
Secretaria
– Sim, está. O que vocês desejam?
Maria –
Queríamos falar com ela, pois ela prometeu que iria reformar a escola em que
sou a diretora e ela é a vice.
Secretaria
– Ah, tá bom! Vou ver se ela pode recebê-las... É que ela anda bastante ocupada
analisando alguns projetos. A quem devo anunciar?
Maria –
Meu nome é Maria e o dela é Vera.
Secretaria
– Vou lá ver, sente-se aqui, por favor, enquanto vou ver se ela pode
recebê-las.
Enquanto a secretaria vai em direção à sala da
prefeita resmunga durante todo o percurso.
Secretaria
– Ah meu Deus, já vem essas mortas de fome, aposto que vieram pedir, é só isso
que esse povo sabe fazer!
Quando a secretaria chega à sala da prefeita, encontra-a
mexendo em sua página no facebook.
Secretaria
– Senhora Carmem, estão na recepção uma senhora chamada Vera e uma outra
chamada Maria, estão querendo falar com a senhora.
Antes que a secretaria terminasse de dizer tudo o
que havia vindo dizer, é interrompida pela prefeita:
Carmem – Esperai,
esperai, esperai trezentas curtidas na foto que acabei de postar! Eu, uma lancha, na praia de Copacabana!
Secretaria
– Pois é senhora, estão lá na recepção, a senhora Vera e Maria querendo falar
com a senhora, mas se a senhora quiser eu dispenso elas. Digo que a senhora
está muito ocupada.
Carmem –
Aquelas barangas só sabem pedir, a terceira vez que elas vêm aqui, é melhor
atende-las, para dispensa-las logo, não aguento mais elas me perturbando!
A secretaria volta à recepção, e pede para a Senhora
Vera e Maria entrarem na sala da prefeita, pois ela estava a sua espera. Quando
as duas entram, a mesma a recebe com a maior falsidade do mundo.
Carmem –
Oi! Que bom vê-las! Tudo bom com vocês, vocês sumiram!
Maria e
vera – Oi!
Maria –
Oi, Dona Carmem! Pois é, estamos aqui para cobrar aquela promessa que a senhora
nos fez, de reformar o colégio em que somos responsáveis.
Carmem –
Pois é, Maria, a reforma não vai dar para fazer, a verba que veio para a
prefeitura só foi um milhão. Mas, já
acabou, gastei em obras, arrumei as estradas...
Vera – Não,
essa conta não está certa! Vi no portal Transparência que veio foi 5 milhões.
Carmem –
Você está dizendo que estou mentindo, que estou roubando?! É isso mesmo?! Olha, vocês são contratadas em
regime provisório, não é mesmo? Pois é, está chegando o prazo da renovação do
contrato, ou não... Vocês sabem que a renovação depende de mim, da minha
assinatura, e eu avalio o bom desempenho, e o bom comportamento dos meus
funcionários.
As duas funcionárias se sentem coagidas e deixam de
lado as reinvindicações, por temerem por seus empregos. Se despedem,
visivelmente constrangidas, incomodadas, humilhadas. E a política corrupta sorri, demonstrando o
poder que tem a custa do dinheiro público.
Fim da
cena e abertura para o Fórum.
3)
Protocolos
elaborados durante o trabalho na disciplina:
Breve explicação sobre o método de trabalho com os
protocolos nas aulas de teatro da Ledoc:
Nas
disciplinas de teatro da Licenciatura em Educação do Campo adotamos a prática
de reflexão do processo de trabalho por meio do protocolo, sistema adotado em
alguns coletivos de teatro (consta que Brecht teria adotado com frequência esse
método com seus elencos).
Da maneira como trabalhamos, após cada aula ou ensaio, os estudantes podem
refletir sobre alguma questão do processo em andamento, e no ensaio seguinte
iniciamos os trabalhos com a leitura dos protocolos, e com a retomada de
debates suscitados no trabalho do ensaio ou aula anterior. É uma forma de
aquecimento intelectual do elenco, e instiga cada integrante do grupo a manter
a observação atenta para todos os aspectos do trabalho, seja a dimensão da
práxis, seja o âmbito das relações sociais entre o coletivo, seja a dimensão da
eficácia estética do processo, por meio da formalização teatral das
contradições, tomadas como objeto de análise.
Buscamos com essa prática instigar os estudantes das turmas de teatro e os
integrantes dos grupos do Terra em Cena a adquirir disciplina de sistematização
e elaboração intelectual sobre o trabalho coletivo realizado. A despeito da
forma do protocolo ser livre, deixamos claro aos participantes a diferença
entre o simples registro de aulas e ensaios, ou a memória do processo, do
protocolo, que implica necessariamente o aprofundamento da reflexão sobre um
dos vários aspectos levantados pelo processo.
3.1 Chegamos até aqui. E agora? Rafael Villas Bôas em 05 de
setembro de 2014.
A
tarefa do grupo era começar a construir uma estrutura para uma cena de Teatro
Fórum, com o tema dos desafios que as mulheres do campo enfrentam para estudar,
sobretudo, em regime de alternância na universidade, como é o caso da Ledoc. A
meta é construir um trabalho que possa ser apresentado no seminário Conexões 4:
Feminismo, Campesinato e Luta de Classes, que ocorrerá na FUP entre os dias 15
a 17 de setembro.
Com pouco tempo de ensaio, o grupo
conseguiu montar uma estrutura inicial compatível com as condições de produção
que detinham. Optaram por organizar uma sequência de depoimentos com narrativas
auto-biográficas de suas vidas, enquanto mulheres do campo e quilombolas. Todas
em cena, sentadas em cadeiras, lado a lado, de costas para o público, para que
não tivessem que enfrenta-lo antes de seus depoimentos, evitando um clima de
comoção generalizado. Ao final, dizem em coro, frente a frente, com o público:
“Pra que representação se nós somos a prova viva disso?”.
O questionamento é forte, e o que
lhe afiança é a aposta na força do depoimento auto-referencial, legitimado pela
condição de origem das estudantes, de uma classe social cuja presença na
universidade pública brasileira ainda é minoritária.
Se a condição de origem é a prova
(da verdade histórica?), então poderíamos dispensar a representação? Esse é o
risco, que se manifesta na forma como a identidade da maioria dos depoimentos
se deu pela afirmação da condição de estudantes da UnB, expondo as dificuldades
para o exercício desse direito ao estudo. O ponto de vista de classe esteve
colocado, sobretudo, pela explicitação das diferenças de oportunidade com os
estudantes de classe média que, tradicionalmente, ocupam o ensino público
superior como um espaço de privilégio, mais do que de direito conquistado.
Estudar na UnB foi tratado como uma
conquista e uma dificuldade, todavia, nos depoimentos, a auto-referência se
sobrepôs ao exercício da percepção coletiva das contradições de classe que
unificam as mulheres do campo e quilombolas na universidade.
O risco é que a força da dimensão
épica do material se esvaia pela chave dramática do depoimento em primeira
pessoa, que involuntariamente, reforça a perspectiva do liberalismo, da livre
iniciativa, do indivíduo que se esforçou e venceu. A forma da cena não
reconhece o antagonista, o patriarcado, e a relação com o capital, como
mecanismo de coisificação das relações sociais, de mercantilização da condição
feminina. Parece que chegar na UnB é o ponto final de uma vida de muito
esforço, dali por diante basta o reconhecimento, individual.
Entretanto, o mundo lá fora
permanece desigual, conflitivo, carecendo de ser “enformado” pelo teatro,
carecendo de ser abordado, enfrentado pelo esforço coletivo daquelas mulheres.
Que fazer a partir dessa nova trincheira conquistada? Qual providencia
organizativa e coletiva tomar? Sobretudo, para que não tenham que se justificar
em comparação com aqueles que podem viver intensamente toda a experiência
possível que a universidade tem a oferecer. Qual é o máximo de experiência
politica e pedagógica que as mulheres do campo e quilombolas podem estabelecer
com esse espaço para que, ao mesmo tempo em que esse ambiente as transforme,
elas também transformem essa estrutura?
E mais, como a partir dessa relação, a ação política se projete em seus
territórios e comunidades com mais força e consciência, construindo as bases
efetivas do poder popular?
A sensação desse momento do trabalho
teatral é que conseguimos nos aproximar das reais contradições, e perceber o
quanto a hegemonia nos impele para formas de representação que podem anular a
força épica do esforço e resistência, mediante a introjeção coletiva da
ideologia liberal. O formato da cena é de intervenção de agitprop, porém, o
sentido dos depoimentos resvalam para o tom melodramático, há uma disputa
interna, entre as condições objetivas e os meios de torna-las reais.
Para que sejam a prova viva da luta
contra a exploração do trabalho e a opressão do patriarcado é necessário lutar
pelos meios de representação simbólicas, pela apropriação dos meios de
produção. Apenas a condição de origem nao é um atestado de consciência
política, pode ser, pelo contrário, um meio de auto-justificativa resignada, ao
mesmo tempo em que ofuscada por uma falsa imagem de conquista individual. Chegamos até aqui, companheiras, e agora?
3.2 As
aulas de Teatro na Ledoc. Protocolo
de Edinéia Gonçalves de Brito
Nas primeiras aulas de teatro realizamos um trabalho
de reconhecimento, ativando nossas percepções entre locais abertos e fechados,
onde andamos pela universidade, buscando ambientes nos quais podemos apresentar
peças e intervenções.
As tarefas teatrais desenvolvidas na aula de teatro
nos auxiliam e mostra a sua importância em nossas vidas, e como a linguagem
teatral pode nos ajudar na nossa transformação e da comunidade. Como estamos no
inicio desse processo fizemos a leitura do texto de Augusto Boal, “Uma
experiência de Teatro Popular no Peru” (Teatro do oprimido e outras poéticas
políticas). O texto aborda a importância do Teatro do Oprimido, o plano geral
de sistematização que é o conhecimento do corpo, tornar o corpo expressivo e o
teatro como linguagem, além das formas que pode ser apresentado e os
exercícios.
Nessas ultimas aulas entramos em novo processo, o da
pratica no qual realizamos vários exercícios, como andando pelo espaço, Jogo do foco, Gato e rato,
Homenagem a Magrith, Jogo do meio de transporte, Completar imagem e Imagem da
opressão, e nesses momentos foi que nos tocamos que não estávamos ali como
indivíduos, mas sim como os protagonistas de uma construção coletiva, pois são
exercícios fundamentais para a desautomatização do corpo, para a perda do medo,
para o desenvolvimento da autoconfiança, para o desenvolvimento dos sentidos,
para a flexibilidade do corpo e para a respiração, que é um dos procedimentos
fundamentais no teatro.
E
para nós, do curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), acho que é de
suma importância as aulas de teatro, pois elas nos permitem conhecer varias
possibilidades de como trabalhar em sala de aula e na comunidade, e nos ajuda a
ter uma nova percepção, dando-nos a oportunidade de agir, sair dessa monotonia,
mudando o nosso jeito de ver a realidade e nos dando uma nova oportunidade de
leitura do mundo.
3.3 Funções
do trabalho com teatro na Ledoc. Protocolo de Maria
Lúcia Martins Gudinho
As
aulas de teatro do curso de Licenciatura em Educação do Campo, contribuíram
para a minha visão de mundo, pois através delas experimentamos novas sensações
e emoções, por meio das técnicas de
jogos teatrais e exercícios que nos
fazem sentirmos confiantes para enfrentar diversas situações do dia a dia e
contornar as situações, ou pelo menos tentar.
Devemos nos colocar no lugar do outro e não julgar certas atitudes, pois
não sabemos quais influências estão por
trás de determinados comportamentos.
As técnicas trabalham o nosso vocabulário
corporal, pois o corpo é a peça fundamental para o trabalho teatral. Quanto à
dimensão psicológica, o trabalho exige muita concentração e confiança. Essas
técnicas são possíveis de serem realizados apenas em coletivo, mostrando que no
teatro não existe protagonistas, um sempre depende do outro.
Com
as explicações do professor, sobre o teatro fórum, pude refletir sobre quão grande são as possibilidades de
trabalhar o teatro na escola e na comunidade. Podemos colocar em cena os
diversos problemas existentes, como a
discriminação de gênero, etnia, desigualdade social, os problemas das escolas
do campo, da agricultura familiar a da política local, e incentivar o público a
participar da elaboração das propostas de soluções. O curinga tem o papel de
instigar o público a entrar em cena.
Com
as aulas de teatro estou perdendo o receio de encenar e
falar em público. Eu era muito fechada e isso
atrapalhava muito nos trabalhos desenvolvidos no coletivo, e no dia a
dia, na sociedade, pois tinha dificuldade de expor minhas opiniões. Estou confiante que, com a base teórica e as práticas que estou adquirindo nas aulas
de teatro na Ledoc, está facilitando o
meu desenvolvimento na sala de aula, como educanda, e facilitará também como
estagiária na escola de inserção, e futuramente como professora, nas ações
desenvolvidas na comunidade, e no dia a dia, em geral.
3.4 O teatro e seus papéis. Protocolo de Emerson Nunes de Souza
Começo
a compreender a importância e o papel do teatro. Quero destacar o teatro
político enquanto maneira de expressar e falar dos conflitos e problemas
sociais presentes nesse modelo de sociedade.
O teatro politico tem que passar uma mensagem,
para isso é preciso que haja experiência que é um pressuposto pedagógico,
condição de fixação do aprendizado, precisamos passar por ela para poder
aprender.
O
Teatro do Oprimido é um conjunto de métodos e táticas sistematizados por
Augusto Boal. Algumas foram criadas por ele, outras foram sistematizadas e
incorporadas no sistema que ele propôs.
Trabalhamos exercitando e expressando nossas emoções e contradições, por
meio das seguintes técnicas:
-
Teatro Imagem, que usa o corpo para expressar e compor formas de opressão e de
transição para a libertação das opressões;
-
Teatro Fórum, técnica que não é capaz de mudar a realidade, mas pode ser um
ensaio para revolução;
-
Teatro Invisível, mostra a realidade sem fugir da realidade, apresentando a
cena em meio a realidade, sem que ela se explicite como cena;
-
Teatro jornal, que surgiu para mostrar os interesses implícitos nos jornais e foi
feito para combater ideologicamente, para criticar os interesses dos
dominadores.
-
Teatro legislativo, por meio do método do Teatro Fórum é realizado para saber
quais as necessidades da população, incentivando-a a propor projetos de lei,
para que sejam levados para a Câmara Legislativa e se transformem, de fato, em
lei.
Dentre
as técnicas citadas quero destacar o Teatro Fórum, que tive a oportunidade de
trabalhar, em uma cena, participando
desde a criação, apresentação e discussão. Nessa forma de expressão do teatro
temos elementos e personagens indispensáveis, e essenciais, para uma boa
apresentação e discussão, um deles é o curinga, que tem o papel de levar o
público a refletir sobre o que foi apresentado para que identifiquem na cena
problemas que acontecem no dia a dia das famílias, no trabalho, nos espaços de
interação coletiva, etc.
O
curinga é:
1. Um mediador entre o elenco e o público.
2. Um agitador/provocador: faz perguntas para o
público.
3. Trabalha com a construção coletiva de opiniões/reflexões.
4. Impede que o Teatro Fórum se transforme em jogo.
O
Teatro Fórum é a representação da realidade através da ficção, sem deixar que
seja levado como um jogo, que tenha um vencedor ou alguém que faça mais bonito.
No
teatro a iluminação também tem um papel essencial, pois pode ter uma função
narrativa, bem como a musica e o figurino.
O
teatro pode ser usado para trabalhar os conflitos vividos nas comunidades,
podemos criar cenas de Teatro Fórum para levar o povo das comunidades a pensar
a realidade a partir de uma cena teatral, para que passem por possibilidades de
mudança na cena e posteriormente a isso possam conversar sobre os conflitos
apresentados na cena que foram criados a partir da realidade.
Com
o estudo do Teatro do Oprimido pude mudar minha visão de mundo, de sociedade, e
saber que tudo que vivemos teve uma luta ideológica e política para chegar no
que temos hoje, e que nada vem do nada, e para nada, mas que tudo tem um por
que e para que.
3.5 Mulheres oprimidas. Protocolo de Tállyta Abrantes
do Nascimento
O
Teatro do Oprimido faz com que percebamos todos os nossos sentidos de maneira
aguçada. Nos tornamos mais perceptíveis às situações simples aos nossos olhos,
e que por trás de um gesto, ou de um comportamento, está à conseqüência da vida
a que somos submetidas.
Vivemos
dentro de um sistema político e não percebemos a essência da nossa existência,
tudo o que somos na verdade é criado a partir de um mecanismo ideológico, o
nosso comportamento perante a sociedade é conseqüência dessa estratégia
política para controle da população.
Não
criamos consciência de classe, nem tão pouco refletimos sobre a grande manipulação a qual somos submetidas.
As mulheres da classe trabalhadora sofrem uma série de violações de direitos,
começando pela tradição construída a partir do patriarcado. Até os dias de hoje
a mulher não tem representatividade dentro do sistema político e nos outros
setores da sociedade.
Nós,
mulheres, temos a concepção intrínseca do homem como ser supremo e a mulher
sendo submissa em vários aspectos da
vida, não somente em relacionamentos conjugais, mas no trabalho, na igreja, na
política e em outros setores.
A
mulher é rotulada de diversas formas, onde o juízo de valor é construído pelo
patriarcado. O homem é um ser supremo, e eles podem tudo enquanto a mulher é a
escrava do lar e da família, que não pode fazer o que os homens fazem e que é
vista apenas como um objeto de satisfação masculina.
O
dia da mulher é uma data importante, símbolo da chacina que aconteceu no dia 8
de março de 1857, passado mais de um século, a mulher ainda luta pelo
empoderamento feminino, e por independência de seus atos e decisões, sem que
haja preconceito de como as mulheres devem agir e ser, sobretudo, as mulheres
camponesas e trabalhadoras.
O
teatro serviu para que pudéssemos dar forma a esse problema, que está tão vivo
dentro de nós, porque vivemos isso, somos trabalhadoras camponesas
universitárias, e todos os desafios que encontramos estando na universidade,
através do monólogo que criamos, adotamos o coro que particularizasse nossa
realidade: “Pra quê representação se somos a prova viva disso?” Fizemos um
processo de construção em que a vida real não fosse representada, mas relatada
por nós mesmas. Esses casos estão mais próximos do que podemos imaginar.
Nossa proposta foi de mostrar o real perto de
nós, e o que fazemos com isso? Somos apenas simples objeto de pesquisa? E o que mudará quando voltarmos para nossas
comunidades? A certeza que tenho é de saber que estamos nos apoderando de mais
um conceito, o do patriarcado e de toda a influência que ele tem sobre nossas
vidas.
E
de saber de todas as injustiças e crueldades que pessoas próximas a nós já
passaram e ainda passam por causa de uma ideologia tosca, a ideologia de que a
mulher é um objeto de uso e desuso. Me revolta saber que minha avó passou por
isso, minha mãe, e eu me submeti a esse mundo machista.
E
que nós mulheres ainda temos pensamentos machistas, mas que pouco a pouco
percebemos isso, tentamos mudar e também mudar a ideologia de quem nos cerca,
através do Teatro Político.
3.6 Sobre as funções do ensino de
teatro.
Protocolo de Elizângela Santana dos Santos
São
diversos os jogos teatrais: Andando pelo espaço, Jogo do poder, Gato e rato,
Homenagem a Magrith, Jogo do meio de transporte, Completar imagem, Imagem de opressão, Batizado mineiro , Hipnotismo
colombiano, 1,2,3 de Bradford, Zip Zap Toin, Floresta de sons, Jogo do poder, Invasão
de território, entre outros.
Com
essa diversidade podemos perceber que o teatro não é uma coisa mórbida, e sim arte
da experimentação, através da qual podemos sentir novas sensações e emoções. Em
razão disso, ele não pode ser visto por nós, futuros educadores do campo, como
um simples subsidio de aula, usado somente em datas comemorativas, para
expressar uma homenagem, ou usado como simples método de avaliação, usado por
usar.
O
Teatro deve ser usado na sala de aula como um meio que permita aos educandos,
através do conhecimento das suas realidades, e com a assimilação das técnicas
do teatro, expressar algo com o corpo, através de cenas, e assim se prepararem
para atuar sobre a realidade, em busca de uma transformação, em beneficio de um
coletivo maior.
Por
exemplo, se na comunidade existe problema de machismo, podemos trabalhar com o
Teatro Fórum, onde o espectador pode tornar-se protagonista da ação que vê, e pode
apontar soluções para um terminado problema posto. Com isto, a pessoa que se
encontra em uma situação de opressão pode encontrar um caminho para desfazer as
arramas dela.
Além
disso, como nessa proposta de teatro não existe apenas um protagonista, isso
ajuda a reforçar o coletivo, espaço onde nos sentimos mais seguros e acolhidos.
Devido a esta peculiaridade, as aulas de teatro nos possibilitam perder a
timidez, expor nossas ideologias, e com a representação de papeis sociais, fortalecer
a reflexão sobre nossas ações. Também
possibilita desautomatizar o nosso corpo, espantar nossos medos. E com nosso
corpo, gritarmos por liberdade de expressão.
Portanto,
o teatro nos faz ouvir e ver o que não ouvimos e nem queríamos enxergar, e nos
motiva a lutar pelos nossos.
4)
Tarefas
encaminhadas para próximo Tempo Comunidade
Prezadas e prezado estudantes,
Como temos apenas dois semestres em
teatro na Ledoc, é fundamental que durante a etapa de Tempo Comunidade, entre a
primeira e a segunda disciplina, vocês se dediquem às leituras solicitadas e à
realização de atividades práticas com a linguagem teatral propostas, para que
possamos partir de outro patamar em Teatro II. A não realização dessas
atividades prejudicará a (o) estudante individualmente e o conjunto da turma,
portanto, se empenhem na tarefa e entrem em contato caso tenham dúvidas durante
o processo de trabalho.
Atividade:
01) Leitura e síntese dos textos: “A pedagogia teatral
em Brecht: o teatro épico”, de Flávio Desgranges (copia anexa na apostila); e
dos textos “Estética histórica e poética dos gêneros” do livro “Teoria do drama
moderno” de Peter Szondi, e “Gêneros e traços estilísticos” de Anatol
Rosenfeld, do livro “O teatro épico” (ambos os textos estão na pasta 142 de
Teatro).
02) Leitura e síntese do texto “Brecht e o teatro
épico no Brasil”, de Iná Camargo Costa. In “Nem uma lágrima: teatro épico em
perspectiva dialética”. São Paulo: Expressão Popular: Nankin Editorial, 2012,
páginas 111 a 136.
03)
Realizar leitura e síntese esquemática do texto “Formas dramatúrgicas e cênicas
do teatro de agitprop”, de Christine Hamon.
04)
Após estudo do texto de Christine Hamon, realizar leitura das seguintes peças
de teatro de agitação e propaganda:
a. Scottsboro.
b. Desemprego! Miséria! Fascismo!
c. A luta do camponês contra o
agronegócio.
Orientação: utilizar os textos das
peças para realização de leituras dramáticas das peças com o grupo que formarem
ou se somarem aos trabalhos. Posteriormente, escolham duas peças (das três
lidas) para fazer análise comparativa dos aspectos formais das obras. Tomem
como base o texto de Christine Hamon.
05) Realizar
leitura da peça “Mutirão em Novo Sol”. Posteriormente, redigir um texto de
análise da peça considerando a relação entre forma e conteúdo da peça, e a
relação da peça com o momento histórico em que ela foi escrita e apresentada.
Para isso, se utilizem dos textos de subsídio indicados nos pontos 1, 2 e 3.
07) Desenvolver trabalho teatral na escola e ou na
comunidade, conforme seguintes possibilidades:
a.
Oficina de teatro com sequência de jogos e exercícios teatrais que culmine com
construção de cenas de Teatro Fórum.
b.
Oficina de teatro com sequência de jogos e exercícios teatrais que culmine com
exercícios de Teatro Imagem.
c. Oficina de teatro com sequência de jogos e
exercícios teatrais que culmine com leitura dramática de texto teatral.
*
Objetivo: contribuir para processo de formação de grupo já existente ou para a
formação de um novo grupo teatral.
08) Registrar por escrito as dificuldades que
encontraram no trabalho com teatro, bem como os avanços, para que possam ser
socializadas oralmente na disciplina de Teatro II. O registro deverá ser
entregue junto com os demais trabalhos da disciplina.
*** TODOS OS TRABALHOS PODEM SER REALIZADOS COLETIVAMENTE
*** As tarefas de TC da disciplina de Teatro II
constituem 55% da menção final.
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